Minha experiência ao conhecer a ilha de Boipeba, em março de 2019, foi de quinze dias de total relaxamento e surpresa. Hoje, terça de Carnaval, dia 16 de março de 2021, quando começo a descrever momentos de luz, sol, boa comida, malemolência baianas, promissor turismo e bela presença de imigrantes latinos (peruanos, argentinos, uruguaios), que expressam Boipeba, vivemos a antítese, com situações muito difíceis quanto à pandemia no Brasil. Quando voltar a viajar? Qual o melhor momento? Como cumprir regras para não se arriscar nem pôr em risco familiares vulneráveis? São perguntas que estão na ordem do dia. Sensatez é a melhor resposta, mesmo em viagens pelo Brasil.

Cartaz de boas-vindas à Ilha de Boipeba, na Bahia. A cadeira à esquerda faz parte da total descontração dos baianos.

Poucos conhecem Boipeba, mas muitos já ouviram falar de Morro de São Paulo. Posso definir e relacionar as duas com alguns pontos de contrastes e diferenças, a primeira é mais pacata, simples, bucólica, tem um público eclético, estruturas adequadas e forte presença da população nativa; a segunda é de turismo esfuziante, nem tão bucólica, tem a presença de visitantes mais jovens e de turistas elitistas, com muitas festas e estrutura hoteleira mais cara. Eu poderia dizer que o turismo em Morro de São Paulo é mais festivo e ostentativo, enquanto na vizinha Boipeba ele é mais relaxante e contemplativo. São diferenças…

Lounge do Bar e Restaurante Nascente do Sol, à beira-mar.
Mar tranquilo, com maré baixa, na entrada da Boca da Barra, em Boipeba.
De visual em visual, Boipeba surpreende qualquer marinheiro de primeira viagem. Vista a partir da ponta da Boca da Barra.

O trajeto para chegar à ilha de Boipeba, na Bahia, é um pouco picado e deve ser bem organizado para não perder alguns horários e criar atribulações na viagem. A dica para a ida é passar uma noite em Valença, desde que não se incomode muito em se hospedar nos hotéis simples da cidade. Para quem não tem medo de mar agitado, é possível ir direto de Salvador até Morro de São Paulo, de catamarã – mas ele bate muito nas ondas e alguns passageiros enjoam –, e depois pegar um carro 4×4 até Boipeba. Eu, como não sou deus Netuno e o respeito muito, fiz o percurso mais calmo. Nesse sentido vou indicar um site que apresenta um bom mapa com o roteiro desde Salvador até Boipeba. Os preços são indicativos e podem já ter variado. O site é: https://www.rome2rio.com/pt/map/Salvador/Ilha-de-Boipeba. Faça a sua opção.”.

Chegando a Boipeba, depois de se acomodar na pousada escolhida, a primeira opção é realmente passar o dia de sol na praia mais central da Velha Boipeba: a Boca da Barra, com bares e restaurantes com sombra, água fresca, coco gelado, cervejinha e bons petiscos. Nesse caso eu indico o restaurante Toca do Lobo, com funcionários simpáticos que deixam o cliente bem à vontade. 

O Bar e Restaurante Boca da Barra é um dos melhores pontos para apreciar o pôr do sol na ilha. O dono é Anderson Bahia, um fervoroso torcedor do Bahia.
Orla da praia da Boca da Barra, na ilha de Boipeba.
Restaurante Toca do Lobo, preferido de minha companheira de viagem, pela simpatia dos atendentes.
A barraca de salada de frutas do Ito é um ponto de referência em Boipeba.

O Ito, nativo da ilha de Boipeba que a representa como um embaixador, indicando passeios e comentando sobre os moradores, diz com emoção que raramente sai da ilha, no máximo vai a Salvador, mas gosta mesmo de passar seus dias no lugar onde nasceu e que ama muito. Sua barraca é sempre muito bem frequentada pelos turistas jovens, que adoram a salada de frutas com açaí. Num dos dias em que estava no restaurante Toca do Lobo com minha amiga Vania, um grupo de jovens de Israel, acompanhado por amigos brasileiros, adorou as delícias da barraca do Ito.

O Point do Açaí, barraca do Ito na ilha de Boipeba, é sempre muito bem frequentada por brasileiros e estrangeiros.

Para continuar a relatar o que de mais importante se tem a fazer em Boipeba, acho importante elucidar: praias, passeios e gastronomia. As praias são o ponto alto de Boipeba, sobretudo porque a maioria não possui ocupação regular, permanecendo com a vegetação nativa e com a sensação de que você as está explorando pela primeira vez. O mapa apresenta a indicação das seis praias a partir da Boca da Barra, vindo a seguir, em direção sul, as de Tassimirim, Cueira, Moreré, Bainema e Castelhanos.

Mapa pictórico da ilha de Boipeba onde se destacam a Velha Boipeba e as praias. A maior parte das linhas traçadas são trilhas para caminhar.

http://www.boipebatur.com.br/ilha-de-boipeba/conheca-boipeba/mapas

A praia de Tassimirim é uma das praias desabitadas, apenas se destacando a barraca do mesmo nome, onde, nos dias claros e de sol, o Luciano (ou Bobó, para os íntimos) e sua família chegam bem cedo, levando os peixes e frutos do mar frescos que estarão no cardápio do dia. A barraca Tassimirim é um exemplo de respeito ao meio ambiente local e nela se planta e se colhe muito dos produtos utilizados nos pratos e sucos ou drinks servidos. Bobó e sua mãe comandam a cozinha, onde produzem as maravilhosas moquecas de peixe ou de camarão, além dos pastéis de lagosta. Tudo servido pelo simpático Fredson. Esse é um dos melhores lugares da ilha para quem procura silêncio e sossego e também um ótimo ponto para banho, pois geralmente suas águas são mais tranquilas.

A barraca Tassimirim. Foto: Vinicius Visionnaire.
A praia de Tassimirim é própria para os viajantes que curtem relaxar e ouvir o barulho das ondas, é totalmente desabitada.

Num dia de céu claro e sem nuvens, eu e Vania, minha amiga de viagem, decidimos passar o dia na praia da Cueira, que é acessada por uma trilha que se inicia no interior da Velha Boipeba. O caminho em si já é um diferencial, atravessamos algumas fazendas até chegarmos num amplo campo de coqueiros, e depois de caminharmos uns 30 minutos avistamos a belíssima e deserta praia da Cueira, que naquele momento estava com a maré baixa, entretanto ela foi aumentando progressivamente até ocupar toda a extensão da areia.  Na praia da Cueira o aumento da maré foi bem nítido. Esse efeito é provocado pela atração da Lua e não ocorre sempre no mesmo horário, pois depende do alinhamento da Lua com a Terra. 

A praia da Cueira é ocupada apenas por barraqueiros e à noite fica desabitada. A maré foi enchendo progressivamente.

Como ficamos duas semanas em Boipeba, voltamos à praia da Cueira com um amigo mineiro que estava na mesma pousada e depois decidimos caminhar na direção sul para o almoço no restaurante Paraíso, em Moreré. Uma perfeita indicação, um local agradável, uma comida deliciosa e tudo maravilhoso. Boipeba é um local onde se come uma boa comida baiana de excelência.

Litoral da ilha de Boipeba entre a praia da Cueira e Moreré.
Caminho da praia da Cueira em direção ao restaurante Paraíso, em Moreré.
O espaço do restaurante Paraíso, em Moreré.
No restaurante Paraíso, em Moreré, a moqueca estava magnífica, sem exagero.

Boipeba não é um lugar para viajantes que exijam viagem estilosa, do tipo onde tudo tem que ser de primeira qualidade. Eu me adapto muito bem às diferenças locais, mas existem alguns turistas que têm muita dificuldade de adequação. No entanto, creio que a beleza de Boipeba compense tudo. Por que expus essa opinião? Vamos entender. Da Velha Boipeba para a praia de Moreré, o trajeto é divido em uma caminhada e depois o restante é feito por um trator que acopla uma antiga carroceria de ônibus. Tudo dá certo, mas acaba sendo muito hilário. Minha forma de encarar esses momentos é perceber que etapas assim, numa viagem, trazem emoção e ficam marcadas.    

O trajeto da Velha Boipeba até a praia de Moreré é executado por um trator que conduz uma antiga carroceria de ônibus.
Uma das lindas praias da ilha de Boipeba: a praia de Moreré.

Agora chegamos no ponto alto da ilha de Boipeba que são os passeios às piscinas naturais e às praias de difícil acesso. Eu perdi a conta, mas creio que nos quinze dias de Boipeba eu fiz três passeios. No primeiro vou destacar o passeio à piscina natural de Moreré, cuja localização se encontra no mapa pictórico acima. O melhor dessa piscina é banhar-se em água morna e cristalina. A piscina natural com cardumes coloridos somente é possível na maré baixa, na alta não se vê tantos peixinhos, mas vale muito o passeio organizado pelo Coco Louco. 

Minha amiga Vania maravilhada com a piscina natural de Moreré.
Na piscina natural de Moreré o melhor é ver o fundo do mar numa água limpa e cristalina.

Num passeio de barco conheci a praia do Bainema, precisamente o pontal. Nesse ponto da ilha, a areia é plana, perfeita para uma caminhada à beira-mar e suas águas são bem calmas e cristalinas. Nesse território do pontal de Bainema, o dono da barraca escreve “esquina do mundo”, é um oásis no deserto. A barraca do Henrique tem mesas ao ar livre, redes e balanços com vista para o mar e um bom cardápio, mesmo estando num lugar tão ermo. Como já havia almoçado, desfrutei de cerveja gelada. Uma dica: nem sempre a barraca se encontra aberta, então faça contato na página do facebook: https://www.facebook.com/pontaldobainema/ .

A praia de Bainema, com suas águas cristalinas e em plena calmaria.

Foto do site: https://www.essemundoenosso.com.br/bainema-praia-boipeba-pontal-bainema.

Nesse mesmo passeio fizemos uma parada na Ponta dos Castelhanos, que, como em Bainema, é um local desabitado. O barco nos deixa próximo da barraca do Pastel dos Castelhanos, que tem um pastel de camarão muito bom, além de caipirinha de diversas frutas e feita dentro da cabaça de cacau. Eu almocei ali um pescado frito. 

Lancha do passeio
Pastel dos Castelhanos
Caipirinha no cacau

Eu viajo aos locais de minhas andanças no momento em que faço suas descrições para o blog, e não somente me recordo de situações, de lugares, das conversas, das sensações, mas se há algo que não me esqueço é o prazer e o aroma de uma boa comida. Na Velha Boipeba, o restaurante da Anália se destaca como um dos melhores. É um local bem simples, mas tudo organizado com carinho e Dona Anália usa lindos “sousplats” de crochê, que servem para evitar que o prato escorregue, para demarcar o lugar de cada pessoa à mesa e para sofisticar a decoração. É um restaurante imperdível na ilha e é conhecido por uma pimenta bem forte denominada de “arriba a saia”.

Na Velha Boipeba, o restaurante da Anália é um dos melhores. Imperdível.
O bobó de camarão da Anália com a pimenta “arriba a saia”. Maravilhoso!
O Sol começando a se pôr atrás da ilha de São Miguel.
O belo pôr do sol visto do Bar do Anderson Bahia, na orla da praia da Boca da Barra.
Ponto central da Velha Boipeba.
Bairro de moradia dos nativos da ilha de Boipeba, com uma linda árvore de flamboyant laranja.

Espero que tenha gostado de conhecer um pouco de Boipeba, uma ilha com um pequeno povoado bucólico, repleto de simplicidade, rusticidade e com grande simpatia dos nativos. A Bahia nos faz lembrar de grandes músicos que enaltecem as belezas naturais, sendo o mar um ente com uma força de atração ímpar, onde viajantes chegam à beira do mar e se hipnotizam: 

“Quem vem pra beira do mar, ai. Nunca mais quer voltar, ai
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar (Dorival Caymmi)

Na ilha de Boipeba você ainda tem bastante para descobrir, a viagem é longa, mas o esforço vale muito. Que tal programar essa viagem?

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4 thoughts on “Ilha de Boipeba, paraíso bucólico.”

    1. Andreza, seguidora do blog, vejo que você tem gostado dos meus posts. Que bom, fico muito feliz!! Conhecer Boipeba é muito bom, porém, como você pode ver no post, a viagem é complexa, logo, programe uma viagem para pelo menos 10 dias. Eu fiquei 14 dias.

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