Começarei por relatar que tenho ascendência alemã, sou bisneto de Heinrich Friedrich Wilkens, que, com alguma probabilidade, chegou ao Rio de Janeiro por volta do ano de 1894 ou 1896. Tenho poucas referências, mas me foi passado que ele veio com um primo destinado a trabalhar numa propriedade rural em Nova Friburgo, porém fugiu do capataz e sumiu na cidade após desembarcar. O primo foi para São Paulo. Ele era camponês da periferia de Hamburgo, e as evidências revelam que embarcou para o Rio de Janeiro no porto de Bremerhaven ou em Wilhelmshaven.
Foto do site: https://tportal.toubiz.de/bremerhavenvmz/offer/detail/GER00020060377876690?lang=en
Tive muita resistência em conhecer a Alemanha, pois me sentia muito inseguro em ter que me deparar com situações constrangedoras quanto à existência, mesmo que remota, de pensamentos e atitudes nazistas na sociedade alemã. Foi uma avaliação errada, que consegui resolver em 2010 quando visitei o país pela primeira vez, a convite de um grande amigo brasileiro que vive em Bremen, e percebi que, pelo menos no norte do país, os alemães já suplantaram aquele momento nefasto do nazismo.
Bremen é uma cidade bem impactante, e o centro possui edifícios que foram preservados durante a Segunda Guerra. A Rathaus de Bremen é um impressionante prédio gótico que foi construído no séc. XV, entre os anos de 1405 e 1410. No transcorrer dos séculos, transformações e reformas foram ocorrendo no projeto original, fazendo com que o gótico fosse coexistindo com outros estilos, como o barroco e o Art Nouveau. Desde a construção do edifício original já havia o “Salão Superior” (Obere Halle), o “Salão Baixo” (Untere Halle) e, no porão, um terceiro salão com as mesmas dimensões, que veio a ser a adega municipal, denominada em alemão de “Ratskeller”.
Importante mencionar que pude conhecer o interior desse lindo prédio, com a orientação de uma amiga brasileira, Cenéia Mangueira Alves, que vive em Bremen e que tem como uma das atividades profissionais a de guia de turismo local. Naquela perfeita visita, ela me apresentou detalhes do prédio com ricas e fundamentais explicações que eu, sozinho, não teria percebido, como, por exemplo, o significado dos navios pendurados no teto do ‘Salão Superior”, que eram usados para a proteção de ataques aos comboios de produtos exportados que saíam de Bremen até o Mar do Norte, através do rio Weser.
O “Salão Superior’ se destaca no interior do prédio, sendo até hoje um dos maiores salões da Idade Média no norte da Europa. Atualmente é utilizado para celebrações, recepções e shows. Para melhor ressaltar a arquitetura desse espaço, cito:
“Desde uma das reconstruções (1608 a 1612), um teto plano de madeira pintado e ornamental foi instalado, sustentado por uma construção elaborada feita de poderosos troncos de carvalho. (…) No teto, penduram modelos de navios de guerra que acompanhavam os comboios de comerciantes nos anos 1650, 1770 e 1779. Com os canhões em miniatura de alguns navios, até fogos de artifício foram disparados em festas. Três dos modelos estavam em Schütting (Casa do Comércio) até 1811. O lustre com a águia dupla também foi um presente dos comerciantes locais em 1869” (trecho extraído do site: https://de.wikipedia.org/wiki/Bremer_Rathaus).
A Catedral de Bremen, dedicada a São Pedro, tem sua origem em uma pequena igreja de madeira construída em 789, com vista para o rio Weser. Em 1041, devido a um incêndio, essa igreja foi completamente destruída pelo fogo e então a reconstruíram em estilo românico até que, no século XIII, a catedral foi remodelada no estilo gótico, conforme a configuração atual. Portanto, podemos afirmar que a Catedral de Bremen vem a ser uma das mais antigas igrejas em solo alemão e hoje se vincula à congregação protestante, sendo membro da Igreja Evangélica da Alemanha.
Nas duas vezes que estive em Bremen, caminhei pelas ruas e vielas estreitas do distrito da cidade velha, conhecido por “Schnoor Viertel”, que, em alemão antigo, usual no norte do país, significa bairro do cordão, pois havia na área uma propriedade onde eram feitos cordões e cordas.
Os edifícios mais antigos do bairro foram construídos no início do séc. XV, em 1401 e 1402. Com a Segunda Guerra, alguns prédios foram abalados e quase ocorreu a demolição total do bairro, mas muitos arquitetos e urbanistas se uniram para que o distrito fosse amplamente poupado, fazendo de Schnoor uma das atrações turísticas mais importantes de Bremen.
O rio Weser corta a cidade de Bremen, e foi em frente ao distrito de Schnoor que se implantou o primeiro porto fluvial da cidade, portanto, a área é de grande importância para o surgimento e desenvolvimento de Bremen. Nesse contexto, pescadores e barqueiros do rio, assim como artesãos, moravam nas pequenas casas de Schnoor, delimitando o bairro como sendo específico das pessoas pobres. Durante muito tempo, um dos braços do rio Weser foi um importante curso de água na cidade, mas foi assoreado, e aos poucos canalizado, em dois momentos: 1608 e em 1838.
Um dos mais importantes edifícios de Schnoor é o de número 10 da rua Hinter der Balge. Ele foi construído em 1600 e tem um aspecto de casa de moradia de anões, com sua porta de entrada bem baixa, assim como a altura entre os pisos. Atualmente é usada para aluguel de temporada de férias. A casa foi construída a partir da técnica de enxaimel, bem típica na Alemanha, apesar de ser encontrada em outras partes do mundo.
“O enxaimel é uma técnica de construção que consiste em paredes montadas com hastes de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais ou inclinadas, cujos espaços são preenchidos geralmente por pedras ou tijolos. (…) Outras características são a robustez e a grande inclinação dos telhados. Na adaptação do enxaimel às características climáticas da região, foi necessária a implantação, por conta da elevada umidade local, de uma estrutura feita de pedra que sustenta as construções evitando que a madeira se molhe” (trecho retirado do site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Enxaimel).
Mais que vivenciar passeios por uma cidade aprazível, o melhor, para mim, na minha última estada em Bremen, em julho de 2019, foi estar feliz e viver o dia a dia com os amigos, sendo então convidado a um jantar, a um almoço de domingo, a um bate-papo à noite, para ver um show à beira-rio, passear de bicicleta por jardins e cair muito (bem risível, pois caí tanto que fiquei com o joelho ferido), ir a uma apresentação cênica de alunos do ensino médio, conhecer a rua das prostitutas e cafetões, ser convidado a uma boate com música latina, enfim, me entregar de coração. E estive muito contente nas diferentes possibilidades de curtir uma Bremen que te aconchega, te acarinha e você se sente um ser amado, confirmando assim que tenho amigos bem queridos. Isso é Bremen!!! Viajar dessa forma é muito gratificante, eu adoro!!!
Bremen sobreviveu aos ataques da Segunda Guerra, ao nazismo e às perseguições às minorias. Hoje, com a luta de artistas, moradores históricos, arquitetos e outros, eles conseguiram que parte da cidade não fosse demolida. Portanto, ao se manter em pé e vibrante a cada dia, Bremen é uma cidade a ser visitada para que sintamos a euforia e a alegria dos bremenses.
Adoro, viajar através dos seus relatos. As casas da Alemanha são lindas. Parabéns e obrigada !! Wilma Amorim
Amiga Wilma. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..
Maravilha , parece um conto de fadas.
Parabéns !!!
Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..
Riquíssimo texto. Delicado, competente e vibrante. Vontade de conhecer Bremen.
Maria Helena. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..
Bem interessante.
Bruno. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..
As fotos são maravilhosas e deu pra captar a beleza do local.
Hélida, como você pode ler no post, o meu bisavô nasceu na linda e rica Alemanha, me deixou apenas o sobrenome, mas tive vontade de visitar este belo país e assim fiz por 2 vezes. Espero que tenhas realmente gostado de tudo que relato, honrando meu bisavô e meus queridos amigos de Bremen. Obrigado!!!
Querido amigo Ronaldo, eh sempre uma grande alegria estar com voce, em Bremen ou em outras partes de planeta. Adorei seu texto sobre a historia da cidade, e principalmente, os diversos detalhes sobre a arquitetura, historia e importancia economica de Bremen para o pais. Sem contar tambem, a inusitada queda da bicicleta… conforme um dito popular: “levanta, sacode a poeira e da a volta por cima.” E boa(s) viage(ns)m
Adorei seu texto! Axe
Meu querido amigo alemão nativo Márcio Soares…. Fiquei ansioso até que li o seu comentário. Eu pensei. Acho que Márcio e os amigos de Bremen devem ter ficado preocupados, pois não estando preparados, serão agora conhecidos internacionalmente, pois o meu blog está suplantando barreiras e territórios….. Você verás que serás conhecido no Mundo!!!!!……KKKKKKKKK….. Sairão do anonimato!!!!! Abraço para todos!!!!
Encantador! Amei conhecer um pouco também da nossa história. Tio, cuidado ao andar de bicicleta na próxima vez Rsrsrsr.
Raisa Wilken, seu nome é de um legítimo alemão, que saiu de Hamburgo e veio para o Rio de Janeiro. A história que soubemos é esta, as datas e o porto de onde ele embarcou temos dúvidas. Parece que ele nunca fez contato com parentes na Alemanha. E ainda perdemos a letra “s” do sobrenome, que antes era Wilkens. Bremen, Hamburgo, Rottenburg, Verden, Berlim e outras cidades que eu conheço, são lindas. A Alemanha é para geógrafos, pois é um país que tem um prefeito planejamento regional e urbano.
Tenho muita vontade de conhecer essa cidade!
Querida Joice, o nosso querido KLAUS WILKEN é de ascendência de um legítimo alemão, que saiu de Hamburgo e veio para o Rio de Janeiro. A história que soubemos é esta, as datas e o porto de onde ele embarcou temos dúvidas. Parece que ele nunca fez contato com parentes na Alemanha. E ainda perdemos a letra “s” do sobrenome, que antes era Wilkens. Bremen, Hamburgo, Rottenburg, Verden, Berlim e outras cidades que eu conheço, são lindas. A Alemanha é para geógrafos, pois é um país que tem um prefeito planejamento regional e urbano.
Ronaldo,
Que bom que vc dicidiu visitar a Alemanha!
É um país fantástico,com um povo bravo e corajoso. Pena que o nazismo tenha deixado essa mancha sobre a Alemanha e o seu povo.É o meu país na Europa e a segunda cidadania das minhas filhas.
Bremen é uma cidade maravilhosa, e ficou ainda mais encantadora vista através dos seus olhos sensíveis e generosos.
Querida Tânia, eu também adoro a Alemanha e os alemães realmente suplantaram o momento pesado do nazismo.
Um lugar que inspira delicadezas! Um verdadeiro sonho!
Querido Marzulo, obrigado pelo seu comentário. Bremen é uma cidade dos sonhos…
Que encantador!!! Conhecer um pouco da nossa história é algo maravilhoso. Eu só conhecia o nome da cidade por conta da fábula ” Os músicos de Bremen”.
Querida Edna, eu não citei “Os músicos de Bremen” por que eu preferi traçar o caminho do agradecimento aos queridos amigos que tão bem me acolhem nesta linda cidade.
Muito bem relatada e ilustrada essa viagem.
Bremen passou a ser bastante atraente.
João Vicente, conhecer Bremen, seus arredores e a Alemanha é, para nós geógrafos, uma aula de planejamento urbano e regional. Imprescindível…