Situada nas margens do Danúbio, a romântica Viena (clicar para ir ao mapa de sua localização) surpreende o viajante com seus magníficos monumentos, seus palácios imperiais e joias arquitetônicas barrocas que convivem em incrível harmonia com construções modernas e contemporâneas. Estive por dois curtos dias em Viena, na companhia de um grande amigo brasileiro que mora em Bremen, no norte da Alemanha. Os viajantes que chegam à cidade geralmente se informam sobre a exuberância dos detalhes bem preservados dos diversos palácios e edifícios barrocos que Viena abriga, entretanto, como são muitos e com o tempo corrido, não pude visitar todos, mas o que vi já me impressionou bastante, principalmente os belos prédios que se encontram nas suntuosas avenidas de Viena.

A estátua da imperatriz Maria Tereza da Áustria, da dinastia dos Habsburgos, em Viena. Foto: Alla Perevertailenko.

Pretendo, neste post, relatar minhas experiências em Viena, destacando os  lugares que visitei, mas, antes, acho importante esclarecer porque ela é conhecida como “A Cidade Imperial”. Tudo começou com a ascenção  da família Babenberg ao poder, que em 1156 transformou Viena como capital de um ducado dentro do Sacro Império Romano Germânico e, em 1237, a declarou cidade imperial. A dinastia Babenberg governou a Áustria até a morte de Frederico II, que não deixou herdeiros. Assim, Rodolfo de Habsburgo foi coroado imperador da Áustria em 1278, iniciando a dinastia dos Habsburgos, a mais longa da Europa, que perdurou por 640 anos, até 1918.

Graben, a rua mais central de Viena. Foto: Susan Paltaulf.

Numa viagem tranquila, cheguei a Viena de ônibus desde Praga, e foi interessante, pois, ao prestar atenção na paissagem, prercebi nitidamente o momento da passagem pela fronteira da República Checa com a Áustria. É fácil sentir, já que a ocupação do solo com contínuas plantações e a qualidade das estradas demarcam bem a diferença, sendo a Áustria um país mais desenvolvido. Ter uma boa percepção espacial faz com que um viajante descubra um pouco mais sobre os territórios visitados.

Já em Viena, à tarde, fui para o centro e, ao sair do metrô, já me deparei com a notável Catedral de Santo Estêvão, que teve sua construção iniciada em 1147, no estilo românico, mas, após um incêndio em 1258, foi ampliada e reconstruída no estilo gótico, obra que perdurou entre os anos de 1304 até 1433. Mesmo sendo uma das mais antigas catedrais góticas da Europa, o seu interior possui um altar barroco com um retábulo retratando o apedrejamento de Santo Estêvão, e a torre norte possui uma estética renascentista.

Catedral de Santo Estêvão situada na estação do metrô de Stephansplatz, Viena.
Vista de Viena a partir da torre sul da Catedral de Santo Estêvão.
O interior da Catedral de Santo Estêvão.
O dia estava nublado e chuvoso. Na Graben, a rua mais central de Viena, temos a Coluna da Peste.

Depois de almoçar, fui conhecer o famoso Café Pruckel (clicar para ir ao mapa de sua localização), um dos típicos cafés vienenses, localizado próximo à estação de metrô Stubentor que tem, em sua plataforma, parte das muralhas da cidade velha. O Café foi construído no início do séc. XX, e uma grande parte de seu interior passou por uma reforma em 1954, pelas mãos do arquiteto Oswald Haerdtl, tendo mudado muito pouco desde então. No Café Pruckel tive o prazer de experimentar a mais famosa torta vienense, a “sachertorte”, que é um bolo de chocolate recheado com fina camada de geleia de damasco e tem cobertura de creme de chocolate negro. A torta foi criada por Franz Sacher, em 1832, e a marca original foi patenteada por Eduard Sacher, filho do criador da deliciosa sobremesa.

O lindo edifício na Stubenring nº 24, onde se localiza o Café Pruckel.
O Café Pruckel.
Vitrine com as sobremesas do Café Pruckel.
A estação de metrô de Stubentor, com parte das muralhas da cidade velha.

No dia seguinte, tomamos café no restaurante Vienne (clicar para ir ao mapa de sua localização), na rua Fleischmarkt nº 20, que fica de frente para a Igreja Ortodoxa Grega da Santíssima Trindade (Holy Trinity Greek Orthodox Church). Estávamos na área próxima da estação de metrô Schwedenplatz, que significa “lugar da Suécia”, indicação dada em retribuição ao apoio desse país à Áustria após a Primeira Guerra. As vielas e ruas desse bairro são interessantes e merecem ser descobertas por cada um que vá a Viena, pois o viajante se depara num território diferente daquele dos palácios imperiais. Por exemplo, na rua Hafnersteig, logo que sai do metrô Schwedenplatz (clicar para ir ao mapa de sua localização), o turista se encontra com uma escada com o muro lateral grafitado e uma placa artística presa à parede. Eu gosto de ver a presença da arte de rua, desde que não seja demasiada. Essa é a diferença da Viena Imperial. Vamos às fotos de Schwedenplatz. 

Essa escada grafitada na rua Hafnersteig, logo que se sai do metrô Schwedenplatz, é bem diferente da Viena Imperial. Eu gosto.
Fachada da Igreja Ortodoxa Grega da Santíssima Trindade (Holy Trinity Greek Orthodox Church), na rua Fleischmarkt nº 13.
Belo corredor de entrada da Igreja Ortodoxa Grega da Santíssima Trindade.
Linda fachada do restaurante “Griechenbeisl”, colado com a Igreja Ortodoxa, na rua Fleischmarkt nº 11.

Adoro conhecer novos restaurantes, mas, apesar de ser uma excelente dica, não tive o prazer de comer no restaurante Griechenbeisl. Ao lado dele, a Igreja Ortodoxa Grega da Santíssima Trindade (Holy Trinity Greek Orthodox Church), na rua Fleischmarkt nº 13, estava aberta para visita, e, embora seja proibido fotografar, consegui tirar foto de seu corredor de entrada. Muito linda! Caminhar por esse pedaço de Viena foi maravilhoso, pois a cada momento eu me surpreendia com novos prédios, histórias, fachadas diferentes, arcos, estátuas e um ar bucólico da Viena Imperial. Foi muito bom, mas tem mais.

Rua Schönlaterngasse, sinuosa e cheia de surpresa, como a réplica da lanterna no prédio em destaque, que indica o nome do “Beco da Linda Lanterna”.

Caminhando sem rumo pelas ruas dessa Viena bucólica, chegamos à rua Schönlaterngasse, estreita, sinuosa e cheia de surpresa, como a lenda que envolve o restaurante Zum Basilisk, localizado em uma casa. Conta a história que, no ano de 1212, havia um poço onde se escondia um mostro que, por sua aparência, assustava as pessoas que buscavam água, sendo capaz de matá-las com um simples olhar. Porém, um sábio revelou que ele morreria após se enxergar num espelho, e assim o dragão basilisco se espatifou com o choque de sua feia fisionomia. O interior do restaurante é rústico, com muita madeira, estátuas de mármore, objetos de bronze e chumbo, metais preciosos e joias figurativas. O destaque visual do restaurante Zum Basilisk (restaurante do Basilisco – o monstro) é o balcão de madeira entalhada. Ele se situa na rua Schönlaterngasse nº 3 (clicar para ver o mapa de sua localização), que significa o Beco da Linda Lanterna. Fantástico!

Que tal está sendo passear por uma Viena bucólica com lendas e mistérios?

O balcão de madeira entalhada do restaurante Zum Basilisk (Basilisco – o monstro).
Lindo salão do restaurante Zum Basilisk (Basilisco – o monstro) bem rústico e mesas bem decoradas.

Continuando o passeio por Viena, conheci uma igreja barroca que me deixou boquiaberto, pois sua fachada, de certa forma simplória, contrasta com o interior notavelmente rico e suntuoso, com pilares de mármore rosado, dourados e vários afrescos alegóricos no teto. A abóbada é dividida em quatro vãos com pinturas em perspectiva, utilizando técnicas ilusórias. A linda cúpula foi executada pelo famoso pintor barroco Andrea Pozzo, em 1703, e é uma obra-prima. Essa é a Igreja dos Jesuítas. 

Igreja dos Jesuítas, na Doktor-Ignaz-Seipel-Platz, próxima do restaurante Zum Basilisk.
O interior da Igreja dos Jesuítas, com o teto pintado numa perspectiva de ilusão do olhar.

Foto do site: https://en.wikipedia.org/wiki/Jesuit_Church,_Vienna

O altar da Igreja dos Jesuítas. Lindas colunas e detalhes que impressionam.

Ao visitar o Palácio de Belvedere, senti-me um Habsburgo. Pode ser engraçado, mas foi esse sentimento que tive quando me sentei para descansar num banco do jardim. A Viena Imperial é muito histórica e, como já expus, a dinastia dos Habsburgos esteve no poder monárquico na Áustria durante 640 anos. Seu legado é enorme, com edificações monumentais, mas digo que não tive tempo em Viena para fazer uma visita ao interior de um palácio, como fiz em Versailles. O Belvedere é um lindo palácio no estilo barroco, mandado construir por um militar que serviu a família dos Habsburgos durante seis décadas. Após sua morte, herdeiros, em 1752, venderam o Belvedere para a poderosa imperatriz Maria Teresa da Áustria e seu esposo, o imperador Francisco I. Um pouco da história do palácio:     

“O casal imperial nunca se mudou para o Belvedere (…). O complexo foi meio que abandonado em relação aos outros palácios imperiais de Viena e de início ficou sem uso. Mais tarde, Maria Teresa da Áustria criou a galeria dos antepassados da Dinastia Habsburgo no Belvedere (…). O palácio foi despertado do seu sono apenas uma vez, no dia 17 de Abril de 1770, quando foi ali encenado o Baile de Máscaras para marcar a ocasião do casamento da Princesa Imperial Maria Antonieta com o Delfim de França, que mais tarde se tornaria o Rei Luís XVI”. (trecho retirado do site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Teresa_da_%C3%81ustria).

Fachada do Palácio Belvedere Superior, ou seja, a parte da frente do palácio.
Detalhe do Palácio Belvedere Inferior, ou seja, a parte de trás do palácio.
Bela esfinge e o jardim do Palácio Belvedere.
Detalhe do Palácio Belvedere Superior. Foto: Alla Perevertailenko.

Em vários espaços culturais e museus de Viena podem ser admiradas as importantes obras do artista austríaco Gustav Klimt, que nasceu na periferia de Viena em 1862 e é conhecido por seus quadros e trabalhos em decoração e na arquitetura.  Com a utilização de folhas de ouro na composição e detalhes de mosaicos em estilo bizantino, a tela “O Beijo” foi criada entre 1903 e 1909, no chamado “período dourado” do artista, e encontra-se atualmente exposta no museu do Palácio Belvedere, que abriga também obras de outros artistas. Então, aproveite a visita para um mergulho na arte!

O museu do Palácio Belvedere abriga pinturas de Gustav Klimt, como “O Beijo”.

Foto do site: https://comunidadeculturaearte.com/gustav-klimt-alegorias-e-emblemas-da-beleza-modernista/

Loja de souvenirs do Palácio Belvedere, com ênfase em objetos inspirados nas obras de Gustav Klimt. Um momento artista do blogueiro em Viena.
Objetos com temas dos quadros de Gustav Klimt à venda na loja de souvenirs do palácio.

No último dia em Viena, depois de sair do hotel, ainda tive tempo de visitar o “Kunst Haus Wien” (Museu de Arte em Viena), inaugurado em 1991, tendo sido projetado por Friedensreich Hundertwasse, arquiteto e artista plástico. O museu está localizado na Untere Weissgerberstrasse nº 13. É um prédio bem despojado, moderno e com propostas bem avançadas para o estilo médio de Viena. O piso dos cômodos é irregular, com cerâmicas coloridas e mosaicos que determinam diferentes tipos de superfícies, e toda a estrutura interna foi projetada num design moderno e de vanguarda. No primeiro andar encontra-se a loja do museu e uma cafeteria no pátio interno bem arborizado, assemelhando-se a um jardim de inverno tropical. Interessante é que a fachada da frente do prédio se assemelha com a do pátio nos fundos do prédio, com um conjunto de janelas pequenas, mas muito bem dispostas de forma simétrica na parede, destacando-se as cores vivas e vibrantes.

Expressivo prédio do Museu de Arte em Viena – “Kunst Haus Wien”.
Porta de entrada do Museu de Arte em Viena – “Kunst Haus Wien”.
De uma janela do Museu de Arte em Viena (Kunst Haus Wien) tem-se uma bela visão para seu jardim arborizado. Outro momento artista do blogueiro em Viena.

Outros pontos interessantes em Viena

Floricultura René Steinmetz, na rua Marco-d’Aviano-Gasse, perto da Cripta Imperial de Viena.
A Karlskirche, ou Igreja de São Carlos Borromeo, construída em 1713 após promessa para que a peste negra deixasse a cidade, o que de fato ocorreu.
O Hundertwasser House de Viena é um prédio de apartamentos inaugurado em 1986 e encontra-se na Löwengasse nº 41 – 43.
Belo interior do Restaurante Amerlingbeisl, localizado na Stiftgasse nº 8, a poucas quadras da praça Maria Teresa da Áustria. Indico, pois gostei.

Eu gostei bastante de percorrer e conhecer essa Viena bucólica que alguns visitantes desconhecem, pois sempre se indica visitar a “Cidade Imperial” dos palácios. Pode ser que eu retorne, mas por ora não tenho nada planejado. Que tal foi o passeio que fiz por espaços diferenciados de Viena com lendas, mistérios, arte e leveza?

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10 thoughts on “Viena e seus espaços bucólicos”

    1. Obrigado. Fico feliz que tenha gostado desse post de Viena, que fiz para traçar uma diferença da Viena Imperial que muitos querem conhecer. Aguarde novidades.

    1. Obrigado. Fico feliz que tenha gostado desse post de Viena, que fiz para traçar uma diferença da Viena Imperial que muitos querem conhecer. Aguarde novidades.

  1. Adorei o texto, durante a leitura me senti visitando Viena, uma riqueza de detalhes e dicas, excelente.

    1. Obrigado. Fico feliz que tenha gostado desse post de Viena, que fiz para traçar uma diferença da Viena Imperial que muitos querem conhecer. Aguarde novidades.

    1. Obrigado. Fico feliz que tenha gostado desse post de Viena, que fiz para traçar uma diferença da Viena Imperial que muitos querem conhecer. Aguarde novidades.

    1. Obrigado amiga. Estou sem tempo para escrever novos posts para o blog depois que voltei da imagem, mas aguarde novidades. Bjs.

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