Após concluir minha graduação de Bacharel em Geografia, ao final de 1983, na Universidade Federal Fluminense, conheci a Colômbia em 1985, quando fui selecionado para fazer uma pós-graduação de Especialização em Cartografia aplicada ao Planejamento Regional. O curso na capital, Bogotá, começou em março e foi até dezembro. Na Semana Santa daquele ano, ao visitar a cidade histórica de Villa de Leyva, eu vivi um dos momentos mais fantásticos e inesquecíveis de minha vida, que decerto ainda guardo as lembranças no meu coração, assim como as pessoas que compartilharam comigo aquele momento, como as queridas amigas colombianas, Silvia Bohórquez e Sonia Abaunza. Foi uma experiência formidável!

Villa de Leyva, a Plaza Mayor e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Villa de Leyva é uma linda vila colonial com arquitetura ímpar de casarios brancos e janelas e portas em madeira no verde musgo. Já estive nesse lindo lugar por pelo menos cinco vezes, e ele permanece na lista de locais que sempre tenho vontade de retornar.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o chafariz e eu em foto de 1985.

Minha primeira experiência na cidade ocorreu de forma inesperada, como vou relatar. Eu e mais três amigos viajamos para Villa de Leyva munidos de um endereço para procurar pouso na cidade, então, assim que chegamos, nos dirigimos à casa para acertar a estadia, entretanto a proprietária já havia a alugado para outros viajantes. O inesperado começou quando o meu amigo colombiano Roberto, conheceu uma das moças que já se encontravam no local. Os novos amigos ficaram consternados com a situação, já que informamos que não estávamos com muito dinheiro para pagar um hotel na cidade, então, conhecedores do local, nos indicaram uma pousada bem simples e nos deixaram dividir a casa para aquilo que fosse necessário. Este é o grupo que se formou naquele 1985:

Em Villa de Leyva no ano de 1985. Eu sou o da esquerda. Silvia Bohórquez e Sonia Abaunza, as duas mais centrais, são amigas até os dias de hoje.

Após relatar minha saudosa experiência em Villa de Leyva, espero provocar em cada um o desejo de conhecer essa formosa vila colonial encravada no altiplano colombiano. Villa de Leyva é muito mais que um belo sítio colonial e arqueológico, pois é uma das primeiras cidades fundadas pelos colonizadores espanhóis, em 1573. A imponente Plaza Mayor possui 1,4 hectares, bem maior que um campo de futebol, que tem 1 hectare. Durante dois séculos, o centro da vila era o local onde se comercializava a produção agrícola do povoado, principalmente o trigo, que era produzido abundantemente na Colômbia. O produto era armazenado nos prédios próximos à praça e sua distribuição organizada ali mesmo, logo, para facilitar a logística, era vital o tamanho da praça, que realmente se faz imponente.

A Plaza Mayor é bonita e bem grande, com um chafariz ao centro e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Villa de Leyva se assemelha com a cidade colonial de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, com suas ruas de pedras. A maioria das casas segue em pé e bem preservada, apesar de ter sido construída no século XVII, de forma que uma ida à cidade promove em cada visitante uma viagem no tempo. Minha última visita à Villa de Leyva foi em 2014, com a bela e prazerosa satisfação de dividir aquele momento com um grande amigo, Marcos Antônio Ramos, que viajou no tempo comigo.

Belos casarios brancos de Villa de Leyva, com janelas e varandas em verde musgo.

Já me disseram – não me recordo quem, tampouco onde – que Villa de Leyva possui uma enorme força que irradia prazer, alegria e plenitude a todo aquele que a visita, já que recebe emanações de forças de diferentes correntes da Igreja Católica, formadas por freiras carmelitas descalças, padres reclusos e outras vertentes de oração religiosas que se localizam ao redor dela. Para entender, Vila de Leyva se localiza ao centro de  quatro monumentos religiosos importantes: o Convento de Santo Ecce Homo, o  Monasterio La Candelaria, o Santuario El Topo em Tunja, e o  Monasterio de Nossa Senhora de Guadalupe, localizado na vila de Arcabuco.

Pátio central do Convento de Santo Ecce Homo, localizado a 8 Km em direção noroeste de Villa de Leyva.

Foto do site: http://ttnotes.com/convento-del-santo-ecce-homo.html

Naquele ano de 1985, visitei com o grupo formado pela harmonia de Villa de Leyva dois desses monumentos, um deles foi o Convento de Santo Ecce Homo, mosteiro dominicano construído no século XVII para ser a casa de repouso dos membros mais idosos daquela comunidade religiosa. O local é aprazível, com muita tranquilidade e hoje também serve como alojamento para viajantes que desejam o afastamento da movimentada vida cotidiana. O local foi incluído no grupo de Monumentos Nacionais da Colômbia, em 1998, e foi finalista do concurso lançado pelo jornal El Tiempo da Colômbia,  em 2007, para definir as sete maravilhas do país

O grupo de amigos no pátio central do Convento de Santo Ecce Homo, localizado próximo à Villa de Leyva.

Naquela época, iniciando minha carreira profissional de geógrafo, não existia câmera digital nem a possibilidade de se ter um blog, portanto a qualidade de algumas fotos deixa a desejar, mas o importante é que foram digitalizadas para demonstrar e confirmar as visitas aos locais descritos. 

Em foto de 1985, o Convento de Santo Ecce Homo, próximo à Villa de Leyva.

Naquela primeira vez em Villa de Leyva, fiquei intrigado com a indicação de um lugar denominado “Desierto de la Candelaria”, então propus ao grupo que, numa manhã, após o café, fôssemos conhecer o tal deserto. Principalmente os colombianos estavam intrigados, pois desconheciam a existência de uma região desértica em seu país. Caminhamos por uma longa estrada de terra e, por toda a região pela qual passamos, não vimos nenhum deserto. Até que a estrada terminou e nos deparamos com um centro religioso, um mosteiro. Todos ficaram espantados e rimos muito de toda a situação, pois descobrimos que o local se chamava “Monasterio Desierto de la Candelaria”.

O Monasterio Desierto de la Candelaria.

Foto do site: https://es.wikipedia.org/wiki/Desierto_de_la_Candelaria

Esse mosteiro foi a primeira construção dos agostinianos recoletos na América e foi erguido no século XVII. A escolha de um vale quase deserto e não um cume, como costumavam fazer os espanhóis, tinha como objetivo servir de espaço de refúgio para os padres agostinianos que, mais afastados da vida urbana, poderiam criar uma comunidade dedicada à oração e à reflexão. Para a formação do grupo inicial, onze eremitas que já viviam em cavernas próximas foram convidados a participar da congregação. A região era conhecida como o deserto da Candelária ou deserto das almas. Veja o belo vídeo:

Atualmente o mosteiro serve como refúgio para os padres agostinianos, mas também oferece serviços de restaurante e hospedagem para visitantes que procuram um lugar onde possam meditar, reunir-se ou simplesmente descansar. Hoje, não há deserto na área ao redor do Mosteiro da Candelária, o local foi recuperado e se tornou um oásis, e também não há eremitas que cruzam os portões, mas há visitantes que encontram o necessário silêncio para desfrutar das obras sacras do local.

A Impactante beleza de Villa de Leyva, ao fundo o altiplano colombiano.

Mas Villa de Leyva tem muito mais a desfrutar, como, por exemplo, alguns museus. Um que se destaca é a Casa Museu de Antonio Nariño, um dos precursores  ideológicos do movimento de independência da Colômbia, bem como um dos primeiros líderes políticos e militares colombianos. Depois de uma vida intensa, cansado e tuberculoso, ele decidiu deixar suas atividades públicas e se mudar para Villa de Leyva, onde veio a falecer em 3 de dezembro de 1823, tornando-se um herói nacional da Colômbia.

Entrada principal da Casa Museu de Antonio Nariño.
Pátio interno da Casa Museu de Antonio Nariño.

Ainda é importante, e mesmo imprescindível, conhecer a Casa Museu de Antonio Ricaurte e o museu do artista plástico Luis Alberto Acuña. Como eu não possuo fotos desses museus, não me furtei a indicar um site muito interessante de uma viajante apaixonada por essa bela vila colonial. Desfrute, então: https://www.fragatasurprise.com/2016/05/museus-de-villa-de-leyva.html.

Outro destaque para os visitantes de Villa de Leyva é o comércio variado, com belos produtos nas diversas lojas de artesanato, além de pedras preciosas e semipreciosas originárias da Colômbia. Busque o presente para os amigos.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, localizada numa posição privilegiada da Plaza Mayor, possui arquitetura colonial espanhola bastante singela, mas a composição que ela faz com os prédios vizinhos é de uma beleza ímpar. O seu interior é tão simples quanto a fachada, e me fez recordar  de minha mãe a dizer que sempre quando se entra pela primeira vez numa igreja deve-se fazer um pedido. Então, em minha primeira vez, eu pedi à Nossa Senhora do Rosário que me permitisse retornar à Villa de Leyva. E fui atendido, já voltei umas quatro vezes. Veja como a igreja fica deslumbrante à noite.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Para o deleite, um pouco mais de Villa de Leyva.

Poderia continuar a descrever um pouco mais de outros sítios, igrejas, museus, restaurantes e hotéis dessa maravilhosa vila colonial, além de indicar passeios a vilas próximas, como Ráquira, mas acredito mesmo que o melhor será  conhecer Villa de Leyva. Eu tenho vontade de voltar e compartilhar da plenitude que é estar nessa esplendorosa vila colonial, caminhando por suas ruas de pedras, entrando nos pátios que são possíveis, visitando igrejas e mosteiros. Sendo assim, achei interessante postar este vídeo para que cada um confirme o quanto Villa de Leyva é magnífica.

Espero que tenha gostado do passeio por Villa de Leyva. Eu estou planejando voltar no final de 2020. Não é uma viagem cara, e viajando comigo você terá o prazer de conhecer muito mais do que por ora apresentei. Vamos?

A imagem de destaque foi retirada do site: https://boyaca.extra.com.co/noticias/politica/villa-de-leyva-y-sus-concejales-347698

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4 thoughts on “Villa de Leyva – Um lugar mágico na Colômbia”

    1. Querida Teca. Que bom que você viajou comigo. Este é sempre o meu objetivo com o blog, fazer com que as pessoas viajem. Obrigado!

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