Começar a escrever este post foi bastante difícil, pois ele está ligado à necessidade de cumprir a promessa que firmei com Santa Nino de que, em meu retorno à Geórgia, eu não poderia deixar de visitar seu Monastério, em Bodbe, para agradecer por estar vivo após os dois anos de pandemia que afligiram a todos. Assim, minha viagem, em maio de 2022, foi pautada por essa prioridade de visitar seu monástério no leste do país e testemunhar a energia que o local emana aos visitantes e adoradores de Santa Nino. Fui e agradeci em prantos, tendo vivido momentos de emoção pura e ainda um pouco inexplicável para mim. Nino, hoje, é a santa padroeira da Geórgia.
A Geórgia (clique e vá ao mapa da localização) foi o segundo país do mundo a instituir o cristianismo como uma religião oficial de Estado, fato que ocorreu no ano de 326 d.C., mesmo com toda a dificuldade de evangelizar o povo georgiano, pois, no Reino da Ibéria, os reis assumiam o paganismo como opção religiosa e não apoiavam medidas de evangelização cristã. A história do surgimento de um reino evangelizado em terras da Ibéria, hoje a Geórgia, é rica de momentos mágicos, lendas e datas sem confirmação, mas tudo começou com a chegada da freira Nino, uma das 35 virgens enviadas de Roma, que se dirigiu para o território ao sul do Cáucaso. A freira Nino foi a única que conseguiu fugir, já que todas as outras foram torturadas e decapitadas pelo rei da Armênia. Em terras da atual Geórgia, Nino começou sua saga.
Quero apresentar alguns monásterios da Geórgia (mostrados anteriromente), mas um pouco da história de Santa Nino faz-se importante devido à sua pregação e à assimilação do povo georgiano aos preceitos cristãos. Tudo começou a ser alardeado quando ela salvou um menino de uma doença incurável, depois de sua mãe pedir que intercedesse junto a Deus para salvar o seu filho, o que ocorreu na presença de vários moradores do local. Esse fato espalhou-se e chegou à rainha, que, acometida por uma doença grave, solicitou que a freira Nino fosse ao palácio, tendo sido salva. Todos na corte ficaram impressionados, despertando o interesse pela fé cristã. O rei, mais tarde, em 326 d.C., aceitou a fé cristã e instituiu o cristianismo como religião oficial do Reino da Ibéria, hoje Geórgia.
Já tinha viajado à Geórgia, em 2019, e esse meu retorno ocorreu em maio de 2022. Dessa vez, fiz um roteiro pelo leste do país, para conhecer os mais representativos monastérios ortodoxos. É importante ressaltar que na Constituição do país é prevista uma destinação de verba financeira para que a Igreja Ortodoxa da Geórgia mantenha preservados os espaços religiosos, o que faz com que estejam bem restaurados ou em obras de manutenção. A igreja do Monastério de Bodbe, do convento de Santa Nino, foi contruída entre os séculos IX e XI, mas no século XVII a basílica foi demolida, e a original, anterior, foi restaurada em 2003. A visita a esse espaço religioso é imprescindível, pois Santa Nino é bastante venerada na Geórgia. A energia que se sente, em todo momento, é indescritível, principalmente no local do seu túmulo, que é visitado por muitos devotos. E nessa visita coloquei-me como mais um desses peregrinos. Vamos curtir fotos do Monastério de Bodbe.
Uma das mais imponentes igrejas da Geórgia, que praticamente empreendeu o estilo da arquitetura sacra no país, é a Catedral de Svetitskhoveli, obra da Idade Média localizada na histórica cidade de Miskheta. Foi Santa Nino quem indicou o local para construir a primeira igreja na Geórgia, no século IV. Importante evangelizadora do país, ela conseguiu converter o Rei Mirian III ao cristianismo, transformando uma antiga sociedade pagã num dos primeiros estados do mundo antigo a adotar essa religião.
O Monastério de Ikalto é um belo monumento da arquitetura georgiana, localizado em Kakheti, no município de Telavi. Numa manhã, o guia de turismo, de língua espanhola, levou-me a esse magnífico passeio. Incrivelmente estava vazio, e não me lembro de ver nenhum visitante, apesar de ser um local de fácil acesso. O monastério foi fundado no século VI por padres assírios e, segundo a lenda, Arsen Ikaltoeli fundou, no séc. XII, uma Academia nos moldes das gregas, com o objetivo de repassar os ensinamentos ortodoxos, além de ministrar aulas de diferentes disciplinas, assim treinando seus alunos em teologia, retórica, astronomia, filosofia, geografia, geometria, aritmética, música etc. Ela foi incendiada pelos persas no séc. XVII. Existem igrejas e ruínas de vários edifícios, sendo que a mais importante das igrejas é a da Transfiguração, dos sécs. VIII e IX. A igrejinha da Santíssima Trindade, apesar de uma profunda renovação, é onde se conservam partes da igreja abobadada do século VI. A igreja de Todos os Santos pertence aos sécs. XII e XIII. É um Monastério muito interessante. Vamos às fotos.
Foto: https://en.wikipedia.org/wiki/Ikalto_Monastery.
Fiquei bem surpreso com o Monastério de Ikalto, pois tanto a parte em ruínas quanto o restante estavam bem-organizados para que os visitantes pudessem usufruir desse belo e interessante espaço monástico da Igreja Ortodoxa da Geórgia. Eu percebi que é um templo bem antigo e que somente se mantém de pé por conta do apoio do governo da Geórgia, que incentiva a cultura do país, preservando os bens públicos, mesmo as ruínas, que ali estão como testemunhos de uma rica história cultural.
Comecei este post com o intuito de escrever sobre quatro monastérios da Geórgia, mas, devido às belas fotos, além da história sobre a vida de Santa Nino, acabei por resumi-lo com apenas dois magníficos templos religiosos ortodoxos georgianos. Mas acho que ficou bom, pois assim espero poder provocar o desejo de conhecer esse fabuloso país no sul da Rússia. Eu sempre tenho vontade de voltar. Que tal marcarmos uma visita à Geórgia e fazermos um planejamento de viagem para conhecer a região dos monastérios? E o melhor: é um destino muito barato. Vamos?
Para aproveitar a viagem, eu indico um guia de turismo que fala espanhol: Tornike ou Toko (Instagram: https://www.instagram.com/guia_espanol_en_georgia/; e-mail: tokomadrid@gmail.com e WhatsApp: + 9955 93816699), pois a língua georgiana é muito difícil, e somente aprendi muito pouco, como:
– “obrigado” – madloba “madiloba”
– “tchau” – nakhvamdis “nahamdis”
– “santa” – tsminda
– “olá” – gamarjoba
– “sim” – diakh
– “não” – ara
Que historia tan bonita amigo, siempre estas muy bien recibido aqui, ub abrazo fuerte desde Georgia.
Tu querrido Toko
Viagem linda!! Espero um dia poder ir até lá. Parabéns, Ronaldo!!
Muito belo! Texto impecável.
Santa Nino vem sempre lhe acompanhando em tudo. Belo post.