Ao planejar uma viagem para passar o Natal de 2020 em Gramado com minha sobrinha e seu esposo, não imaginei, inicialmente, que teria o transtorno de ter que remarcá-la por duas vezes, devido à pandemia. E eu queria muito fazer novamente essa viagem, para retornar ao Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (clicar para ir ao mapa de sua localização), pois na primeira vez em que lá estive, em 2012, fiquei apaixonado. Então eu queria voltar às vinícolas que gostei, assim como conhecer as novidades, como, por exemplo, a Videiras Carraro. Enfim, consegui viajar por nove dias ao Rio Grande do Sul, começando por Porto Alegre, depois pelo Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e, ao final, curti a noite de Natal de 2021 em Gramado.
Recordo-me de muitas lindas paisagens em minhas andanças pela Europa e América Latina, mas essa imagem do Vale dos Vinhedos é impressionante! Nesse dia fiquei com vontade de colocar uma cadeira no mirante e meditar, contemplar, pensar na vida e na morte, emocionar-me, enfim. É um cenário digno de quadros dos maiores impressionistas. Por isso é tão maravilhoso e extraordinário. E as parreiras são, para mim, como entes vivos que pulsam e vibram, mas que precisam de cuidados intensivos como uma criança após nascer. Interessante que as videiras têm as roseiras como uma babá, que indica se a criança está com sede ou se está enferma. Essa história explicarei adiante. Empolgante!
Não pretendo discorrer sobre os dados históricos da criação do vale, a descrição do processo de formação do território ou citar personagens históricos e pessoas relevantes na organização do Vale dos Vinhedos, acho até importante, mas prefiro expor minhas emoções, que são sempre muitas, quando da incursão a esse território fantástico das frondosas parreiras brasileiras. No mapa abaixo há um roteiro para visitar as vinícolas, entretanto citarei aquelas com as quais mais me identifico, pois prefiro visitar as vinícolas menores e familiares, já que o contato direto com os donos promove uma maior interação, e a receptividade é bem maior. Vamos visitar o Vale dos Vinhedos pela Linha Leopoldina, de leste a oeste, começando por conhecer as vinícolas da Via Trento. A Peculiare Vinhos Únicos (clicar para ir ao mapa de sua localização)não é a primeira no roteiro por acaso, mas é a vinícola cuja hospitalidade dos donos sempre foi, para mim, um referencial no vale.
A primeira imagem que se tem quando nos acercamos da Peculiare é a beleza da fachada da casa principal, toda coberta de hera. Sempre gosto muito dos prédios com parede viva. É um visual apaixonante, e nos fundos da propriedade os vinhedos deslizam pelas encostas. Eu sou suspeito em afirmar, mas a Peculiare Vinhos Únicos (https://www.peculiare.com.br/) deve ser uma das prioritárias no seu roteiro ao Vale dos Vinhedos. Teria noção do motivo por minha predileção? Será que acertará? Pense numa hipótese antes de continuar a leitura do post.
O motivo de minha afeição por essa vinícola é que tenho tido a fortuna de conhecer, a cada visita, uma nova geração da família que lutou para alçar a Peculiare a uma posição de destaque dentre as várias vinícolas do Vale dos Vinhedos. Em 2012, fui recebido pelo Senhor Raul Zorzi, filho da matriarca Dona Paola Rigato, que se casou com Basílio Zorzi. Nessa última visita fui recebido pelo casal Michela e Ronaldo Zorzi, ele filho do senhor Raul e neto dos visionários da Peculiare Vinhos Únicos. Um pouco da história dessa vinícola:
“Dona Paola Rigato nasceu na Itália em 1909. No ano de 1926, Paola, com os pais e irmãos embarcaram rumo ao Brasil. Paola foi trabalhar na casa da família Zorzi, onde conheceu seu futuro marido Basílio, com quem se casou em 1927. (…) Ronaldo, filho de Raul Zorzi foi bastante influenciado pelo espírito da nona, de quem herdou o prazer e o amor desde pequeno pela terra. (…) Enólogo formado no final da década de 1990, uniu a antiga prática dos imigrantes às modernas tecnologias na elaboração de vinhos únicos que traduzissem em cada garrafa toda a história e paixão da família. Assim em 2003 surge a Vinícola Peculiare”. (trecho adaptado a partir do site: https://www.peculiare.com.br/institucional)
A produção da Vinícola Peculiare é pequena se comparada com outras, com uma média de 25 mil garrafas por ano, mas tem vinhos em destaque, como o tinto Ancelota Gran Reserva. É uma variedade de uva italiana que se adaptou bem ao solo da propriedade da família Zorzi. Na degustação eu senti que esse carro-chefe da Peculiare é um vinho de sabor agradável, com buquê e aroma apurado de um vinho maduro em que as mutações físicas e químicas ocorrem à medida que o vinho vai envelhecendo. O Ancelota da Peculiare (vá ao site para comprar o vinho) é posto à venda após cinco anos da safra.
Antes de passar para outra atração do Vale dos Vinhedos, vou explicar a parceria entre as rosas e as videiras. São várias as razões para se plantar rosas nas vinhas. Uma delas é a bela composição do cenário, já que flores deslumbram qualquer um, seja turista ou viticultor, ainda mais as rosas, que são lindas. Mas a razão mais importante é que tanto as uvas quanto as rosas são suscetíveis a contrair as mesmas doenças, causadas por fungos, sendo que nas rosas elas se manifestam mais rápido. Assim, quando as roseiras adoecem, indicam que, em seguida, as pragas chegarão às videiras, e o produtor pode se antecipar nos cuidados necessários. Uma terceira causa, nem sempre citada por especialistas, mas que vim a escutar em La Rioja, na Espanha, é que as roseiras gostam e precisam de água frequentemente, logo, se o viticultor esquecer de regá-las elas ficarão murchas e no mesmo instante apontarão que as videiras também estão secas.
Continuando o percurso na Via Trento, a próxima parada é na Vinícola Larentis (clicar para ir ao mapa de sua localização), outra das minhas preferidas no Vale dos Vinhedos, por ser uma cultura de vinhos que já se encontra na 5ª geração da família. A tradição da família no país começou com a chegada à região de Arcangelo Gabriele Larentis, que com os seus 19 anos, em 1876, migrou de Trento, na Itália, para o Brasil. A família Larentis tornou-se uma das primeiras a cultivar em terras brasileiras as variedades Chardonnay e Cabernet Sauvignon, no final dos anos 70, e o Merlot, no final da década de 80, na região nos vinhedos em Bento Gonçalves. (https://www.larentis.com.br/institucional).
Cabe destacar que tanto na Vinícola Larentis como na Peculiare, como são familiares, há uma tradição na atenção e carinho em receber os visitantes. Nos dois momentos de minha visita ao Vale, em 2012 e agora em 2021, fui atendido por gerações que passam a hospitalidade e um enorme prazer em acolher o turista. Na Larentis, em 2012, fui recebido pela nona Romilda e o senhor Cilo Larentis, e recentemente fui recepcionado, com muita delicadeza, por Vera Larentis, filha do casal.
A Vinícola Larentis preza pelo cuidado em todo o processo de produção dos seus bons vinhos. Com 14 ha de vinhedos próprios, divididos em 23 parcelas, produz uvas diversificadas que dão origem a um vinho singular e de personalidade a partir de cada um dos lotes cultivados. Algo diferente, que não pude experimentar, é um evento que, pelo que eu soube, tem atraído muitos visitantes para a experiência da colheita noturna, feita em fevereiro e março (https://www.larentis.com.br/pacotes/colheita-noturna). No dia da visita à Vinícola Larentis pude degustar o saboroso vinho branco da cepa Chardonnay, ao mesmo tempo que desfrutava de uma vista estupenda da área plantada com o tradicional vinhedo da família Larentis. E nesse momento, num misto de felicidade e prazer, o mais interessante foi ver o lagarto “Valtinho”, mascote de estimação da família, rastejando por toda a plantação. Encantador!
A Via Trento, no Vale dos Vinhedos, tem surpresas inesquecíveis, como um mirante com vista indescritível do vale. A foto ficou boa, mas somente “in loco” se tem a verdadeira noção de toda a beleza. Depois do mirante, ir prestando atenção nas curvas e retas da própria Via Trento é incrível, com lindas casas com quintais arborizados, gramados e belos arbustos floridos. O interessante é que as casas são pintadas num tom de rosa bem forte; eu gosto de casas rosas. Ainda na Via Trento, há a capela de Nossa Senhora das Neves e a lojinha do Artesanato do Vale, que mais se assemelha a uma casa de bonecas.
Quero agora passar a descrever a excelente experiência que vivi no Vale dos Vinhedos nessa minha viagem. Já passava das 14 horas e a fome estava chegando forte. Então pensei que o melhor seria conhecer a Videiras Carraro (clicar para ir ao mapa de sua localização) e sua proposta de piquenique sob o vinhedo da família, acompanhado de um bom vinho Carraro. Escolhi um branco gelado, já que estava um dia muito quente. A vinícola é bem pequena e muito simples, e a proposta de oferecer um momento de relax embaixo da parreira para descanso e desfrute de um bom vinho com mesas, cadeiras e redes é uma ideia implementada há apenas dois anos que senti que deu certo.
Em 1875, os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil vindos da região do Vêneto. Entre eles estava a família Carraro, que se estabeleceu no Vale dos Vinhedos cultivando uvas e elaborando uma pequena quantidade de vinhos para o consumo familiar. Como foi dando certo, a Videiras Carraro foi aberta ao público para visita e degustação em 2016, mas o belo casarão, que ainda se encontra na propriedade, tem como data de construção o ano de 1897. Não conheci, no dia da visita, o Jean Carraro, da 5ª geração da família Carraro e atual cultivador das vinhas da Videiras Carraro. Foi ele quem teve a boa ideia do piquenique sob a parreira.
O tempo de uma viagem às vezes é curto ou, por falta de sorte, chega-se a um local quando algo importante já ocorreu ou acontecerá, mas você não sabia. No caso da Videiras Carraro (https://www.instagram.com/videirascarraro/), somente na visita descobri que naquela semana havia começado a colheita da uva, e lá ocorre a atividade denominada “Pisa nas Uvas”, ou seja, uma experiência para ver e fazer como, há muitos anos, os produtores de vinhos maceravam a uva até que surgisse o caldo necessário para a fermentação, decantação e preparo do bom vinho. A Videiras Carraro organiza, entre os dias 18 de dezembro e 28 de fevereiro, a participação dos visitantes nesse processo antigo de amassar as uvas com os pés. Visitei a Videiras Carraro no dia 21 de dezembro.
A Videiras Carraro foi uma das últimas vinícolas do vale a ser reconhecida como uma agroindústria familiar, fato que ocorreu em junho de 2021, mas desde 2016 a família abriu o local para visitação, e a produção artesanal de vinhos alcançou quantidade suficiente para comercializar o excedente. Aos poucos o negócio da família foi expandindo e Jean Carraro e seus familiares aperfeiçoaram as técnicas e transformaram a propriedade da família em um importante ponto turístico. Hoje o destaque para os turistas que visitam o local é fazer um piquenique e aproveitar os produtos da vinícola sob as videiras, compartilhando com galos, galinhas, cães e pavões que circulam livremente pelo amplo terreno de uva coberta. No dia em que a Videiras Carraro foi aprovada como agroindústria familiar, Jean Carraro discursou:
“Contamos com o apoio da Emater e o projeto foi ganhando vida. Eu sou a quinta geração da família Carraro que produz vinho e sempre tive o desejo de continuar esse legado. Quero agradecer em nome de todos da Videiras Carraro pelo empenho. Tenho certeza que esse reconhecimento vai nos motivar a crescer cada vez mais e ajudar o Vale dos Vinhedos a ficar mais conhecido na rota dos turistas. Podemos dizer que o evento realizado em nossa vinícola foi um sonho que se concretizou”. (trecho retirado da entrevista no site: https://revistanews.com.br/2021/06/21/casa-zottis-e-videiras-carraro-inauguram-em-bento-goncalves/).
Estou terminando de contar toda a minha emoção e satisfação que foi voltar ao Vale dos Vinhedos, lugar no Brasil que, podendo, voltarei, pois acho incrível e imperdível, principalmente para os que amam vinho. Nessa viagem também retornei a um excelente restaurante no vale, que será citado ao final desse post. Sobre outras vinícolas, dicas de lojas e mais aspectos, deixarei para um próximo post do Vale dos Vinhedos. Mas você percebeu que as videiras são destaques no vale, e separei esta última foto porque ela sintetiza minha paixão pela Videiras Carraro.
Agora vou dar uma dica para aqueles que, querendo fugir dos preços altos dos restaurantes no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, acham que precisam deixar de almoçar ou voltar à cidade para comer. Não faça isso, pois vou destacar a sorte grande que tive ao conhecer um excelente restaurante desde minha primeira viagem ao vale. É excepcional, com tudo de primeira, um serviço de categoria, com um tempero fenomenal e bom preço. Além de tudo, guardei com carinho uma foto, que tirei em 2012, do salão com o detalhe do quadro que ainda hoje se encontra no restaurante Sbornea’s (http://www.restaurantesborneas.com.br/). Para aguçar a vontade de saborear uma boa comida típica italiana, não pense em outro restaurante senão no Sbornea’s.
Mural de fotos do restaurante Sbornea’s.
Contatos do Restaurante Sbornea’s:
1 – Reservas: (54) 3459-1224
2 – E-mail: sborneas@gmail.com
3 – Instagram: https://www.instagram.com/sborneas/
4 – Site: http://www.restaurantesborneas.com.br/index.php
5 – Endereço: Km 19,5 da RS 444 – Linha 8 da Graciema – Vale dos Vinhedos.
Foto de destaque de Luiza Nichetti – @nichettiluiza
Muito rico em detalhes, motiva e nos leva até lá. Esse jeito de descrever uma viagem é encantador. Sobre vinhos, estou aprendendo ainda.
Célia, obrigado por seu comentário e por fazer parte de um grupo de seguidores do blog. Estou feliz que tenha gostado do posts do Vale dos Vinhedos. Navegue no blog, tenho outras publicações do Brasil. Os posts da França são: https://novosterritorios.com/category/paises/brasil/
Quanta riqueza de detalhes nesse post !! Já fui a Bento Gonçalves e Gramado, achei magnífico!! Lendo esse post fiquei morrendo de vontade de voltar!! Parabéns pelo conteúdo!
Isis, minha querida amiga e seguidora do blog. Que bom que ficou com vontade de voltar. Eu também, quem sabe se não faremos uma viagem juntos???? Obrigado!!!!