Paraty é um dos lugares mais visitados no Brasil, tanto por turistas nacionais como estrangeiros. Conforme dados do Ministério do Turismo, em 2019 a cidade ficou em décimo lugar entre os destinos de viajantes de outras nacionalidades. É uma cidade perfeita para passeios curtos ou longos, seja por um fim de semana, seja por dez dias ou até mais, pois há uma infinidade de opções para serem desbravadas, tais como: praia, cachoeira, cultura, história, natureza, festas religiosas, ecoturismo, gastronomia, arte, literatura, quilombo, aldeias indígenas e aventura.

Casarios na rua do Fogo, típica de pé de moleque, com a torre da Igreja de Santa Rita.
Praia de areia fina, rochas erodidas e uma escuna, na praia do Meio, em Paraty.
Os índios Hayapó pataxó e Auiri pataxó, na Cachoeira de Iriri, localizada na área da Aldeia Pataxó, no Km 548 da rodovia Rio – Santos, em Paraty.

Neste post desejo analisar o processo histórico de construção dos casarões com forte influência de símbolos e desenhos maçônicos nas suas fachadas, ao mesmo tempo que espero apresentar explicações para os mistérios que envolvem a presença dos maçons em Paraty (clicar para ir ao mapa de localização da cidade).

Casarão de 1856 com influência de desenhos maçônicos, na rua Dr. Pereira 139, esquina com a rua da Lapa, hoje ocupado por uma pousada.
Detalhe da quina do mesmo casarão.

Para entender a relação dos desenhos geométricos pintados nas quinas laterais dos casarões de Paraty é importante saber a origem da Maçonaria e do nome “maçon”, que vem do francês e quer dizer aquele que constrói, no caso, o pedreiro. Nas organizações de operários que surgiram na Idade Média, tais como artesãos, ferreiros, sapateiros, alfaiates, cuteleiros e outros, os pedreiros destacavam-se como um grupo com privilégios sobre outras categorias de trabalhadores, pois, pela necessidade de se moverem para a construção de estradas, catedrais, mosteiros, castelos, muralhas e edificações em geral, possuíam o direito de ir e vir, o que as demais corporações de operários não tinham. Mas, para manter os segredos do ofício, não perder as regalias e não deixar que a profissão se propagasse, os pedreiros criaram confrarias secretas. Assim se originou a Maçonaria, envolta em mistérios e segredos, cujos maçons, no início, eram exclusivamente pedreiros.

Rua com calçamento de pé de moleque, em Paraty, e o Sobrado dos Abacaxis, lindo casarão com desenhos geométricos de influência maçônica.

Foto do site: https://estrelatours.com.br/blog/detalhes-do-centro-historico-de-paraty-o-tracado-das-ruas/

Os mistérios da Maçonaria nem sempre são comprovados, devido aos fortes códigos de rigidez do grupo que fazem com que tudo que se debata internamente se feche a sete chaves. Entretanto, ao pesquisar um pouco mais sobre as origens da Maçonaria, deparei-me com afirmações que confirmam que essa confraria secreta era sinônimo de Geometria e ligada à Arquitetura, utilizando dessas ciências os significativos símbolos ou desenhos geométricos que encontramos nos sobrados de Paraty. Vamos ao texto:

“Uma das coisas interessantes desses manuscritos, (…) é que a palavra Maçonaria era, nesses tempos, usada como sinónimo de Geometria. Assim, quando neles se escreve que Euclidesé fundador da Maçonaria, o que se está realmente a dizer é que o grego Euclides foi o criador da ciência da Geometria. Por sua vez, a Geometria aplicada à construção, ou seja, à Arquitetura, também era designada por Maçonaria nesses manuscritos. Ou seja, (…), a palavra maçonaria tinha três significados: primeiro com a associação de construtores em pedra (pedreiros), que preservava e transmitia os segredos da profissão e a regulava; segundo com a ciência da Geometria e em terceiro com a arte da Arquitetura. (trecho retirado do site: https://www.rlmad.net/arquivoblog/a-maconaria/maconaria-geometria-arquitetura/ ).

O Sobrado dos Abacaxis destaca-se como um lindo casarão com desenhos geométricos de influência maçônica. Aqui, parte da linda coluna.

É importante destacar que esses casarões foram sendo construídos à medida que a vila de Paraty foi progredindo com o escoamento do ouro extraído das Minas Gerais. Em 1750 alcançou a segunda posição de porto no Brasil Colônia, quando Paraty se tornou uma povoação promissora, com quatrocentas casas construídas com paredes de pedra e cal e outras de pau-a-pique (estuque). Dentre todas as casas, quarenta eram grandes sobrados e alguns já ostentavam suas colunas com os desenhos geométricos maçônicos.

Fachada da Casa de Cultura de Paraty, que foi, no Brasil Colônia, um daqueles casarões comerciais.

Muitos dos casarões serviam de moradia e, ao mesmo tempo, de casas comerciais que transacionavam aguardente, secos e molhados, mobiliário e porcelanas, entre outras mercadorias que saíam ou chegavam de Minas Gerais, de São Paulo e da Europa. Com o progresso econômico, a Maçonaria buscou determinar em Paraty os sinais característicos de sua simbologia, com o objetivo de que fossem reconhecidos pelos novos maçons que chegavam ou passavam pelo pujante entreposto comercial. Habituados ainda às perseguições em terras europeias, essa medida foi também necessária para que se distinguissem dos outros grupos que dinamizavam a economia na cidade.

O Sobrado dos Abacaxis é uma propriedade particular que se encontra à venda. O sobrado fica na rua Dr. Pereira.

Com essa estratégia, os maçons diferenciavam-se dos outros moradores de Paraty, pois suas moradias tinham as figuras geométricas nas quinas ou em outras posições verticais. Como era um grupo que conseguiu ganhar muito dinheiro, eles construíam o segundo andar de suas casas de forma que servissem como uma torre de vigia. O abacaxi nas casas dos maçons significava que quem as habitava era de origem ou tornou-se nobre. Embora não seja um sinal típico da maçonaria, essa fruta simboliza a nobreza, pois é amarela como o ouro e se assemelha à coroa dos reis, significando prosperidade.

O Sobrado dos Abacaxis tem vários adornos com essa fruta, que além de ser um adereço, representava, durante a era colonial, prosperidade e riqueza.

O Sobrado dos Abacaxis, ou Solar dos Abacaxis, é um exemplo dessas construções maçônicas e ostentam, até os dias de hoje, os lindos e preservados abacaxis. Com uma simetria perfeita, as colunas com elementos geométricos maçônicos indicam o código da confraria e estão pintadas na cor azul-hortênsia, simbólica para a Maçonaria. Os abacaxis, em cada varanda do sobrado, chamam a atenção dos turistas por sua beleza e delicadeza, junto dos belos balcões gradeados em ferro fundido. As frutas tropicais amarelas não eram só um adereço, já que, nas cidades coloniais brasileiras elas ressaltavam a posição social do proprietário das moradias.

Esse sobrado é uma das casas mais impressionantes do Centro Histórico de Paraty, com 650 m² de área construída num terreno de 800 m², e encontra-se à venda. Puro luxo numa das cidades mais charmosas do Brasil.

Vamos, então, ao vídeo que mostra o interior desse lindo casarão maçônico de Paraty. Vídeo: Faccin Investiments.

Os abacaxis, os balcões gradeados e os lustres antigos chamam a atenção, em cada varanda do sobrado, por sua beleza e delicadeza.

No Centro Histórico de Paraty vários são os detalhes arquitetônicos que os visitantes, às vezes preocupados em caminhar no calçamento de pé de moleque, deixam de perceber nas esquinas, que são particularidades referenciais da época em que os maçons promoveram o arruamento da cidade. Um desses pormenores são os pilares de pedra lavrada, também conhecidos como cunhais, colocados nas quinas dos casarios. O mais interessante é que são encontrados em esquinas aleatórias e posicionados em três casas, assim, quando unidos de forma invisível no solo, por linhas retas, se fecham e surge então o triângulo maçônico, um dos símbolos mais importantes da Maçonaria. 

Destaca-se um cunhal.
Três pilares de pedra, conhecidos como cunhais, construídos nas quinas das casas.
Linda reprodução da fachada de um casario de Paraty, na maré cheia, onde se vê o reflexo do pilar de pedra e da coluna com seus símbolos geométricos maçônicos.
Fachada da Casa de Cultura de Paraty com um pilar de pedra na quina, conhecido como cunhal, além da coluna com lindos símbolos maçônicos.
Rua do Comércio, a mais central e importante no Centro Histórico de Paraty.
Antigo casario maçônico da rua do Comércio, que no período de alta temporada é utilizado por galerias de arte e lojas de artesanato.
Casarão maçônico com a coluna de símbolos geométricos na cor vermelha já um pouco desbotada, localizado na rua Dr. Samuel Costa nº 178.
Rua Dr. Samuel Costa com o casarão nº 213, à direita. Um pouco mais à frente vemos a coluna maçônica da Casa de Cultura de Paraty.
Casarão maçônico bem preservado com a coluna de símbolos geométricos na cor azul-hortênsia, localizado na rua Dr. Samuel Costa nº 213.
Destaque de três símbolos geométricos maçônicos no casarão da rua Dr. Samuel Costa nº 213.
Na praça da Matriz, o casarão maçônico na rua Dona Geralda nº 292 é ocupado por uma pousada, com colunas de símbolos geométricos em azul claro.

Mural com detalhes interessantes de Paraty.

Linda porta colonial na rua do Fogo, local muito fotografado.
Adoro as expressivas janelas de Paraty, como essa na rua do Fogo.
Igreja de Santa Rita, hoje ocupada pelo Museu de Arte Sacra de Paraty.
Coloridos barcos no Cais de Paraty.

Desde outubro de 2017, Paraty foi indicada a integrar a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia. Esse reconhecimento é importante, pois confirma que a cidade tem um polo gastronômico de alto gabarito. Mesmo que digam que os preços são altos, refute, pois vale saborear seus bons pratos. Indicarei bons restaurantes e uma pousada onde fui bem recebido pelas simpáticas moças que fazem intercâmbio de trabalho voluntário. Ótima experiência!

Restaurante Caminho do Ouro:

1 – Reservas: (24) 98876-1899 ou (24) 3371 1689

2 – Site: http://www.restcaminhodoouro.wixsite.com/paraty

3 – Instagram: https://www.instagram.com/caminhodoouro/ 

4 – Endereço: rua Dr. Samuel Costa, 236 – Centro Histórico.

5 – Slogan: “Servimos Emoções”.

Um maravilhoso “magret de canard com risoto de grana padano”.

Restaurante Prosa na Praça:

1 – Reservas: (24) 98119 0719 ou (24) 3371 2695

2 – Site: https://www.prosarestaurante.com.br/

3 – Instagram: https://www.instagram.com/restauranteprosa/

4 – Endereço: rua da Cadeia, 267 – Centro Histórico.

5 – Diferencial: Música ao vivo de quinta a domingo.

Filet de robalo com batatas ao murro. Delicioso!

Aracy Paraty Pousada:

1 – Reservas: (24) 99944-7222 e (24) 3371 1649

2 – Facebook: https://www.facebook.com/aracyhostel/

3 – Instagram: https://www.instagram.com/aracyhostelpousada/

4 – Endereço: rua João Luiz do Rosário, 328, a uma quadra do Centro Histórico.

5 – Diferencial: O dono (Paulo) recebe jovens para intercâmbio de trabalho voluntário.  É uma pousada simples, mas com boa receptividade e proximidade com o Centro Histórico.

Mesa para o bom café da manhã, na Aracy Paraty Pousada.

Para um viajante que gosta de entender melhor e com mais detalhes uma visita, indico o guia de turismo de Paraty: Renan Pinto – Whatsapp: (24) 999159119, o blog: https://guiarenan.wixsite.com/travel-blog-pt e o e-mail: guiarenan@ig.com.br.

Pretendo voltar a escrever sobre essa linda cidade colonial do estado do Rio de Janeiro, enfocando as belas cachoeiras, os famosos alambiques, a rica história de suas igrejas e o turismo sustentável nas ilhas e praias. Acredito que Paraty mereça uma visita de uma semana para melhor conhecê-la. Eu estive por lá entre os dias 16 e 22 de novembro. Como tirei belas fotos, tenho vontade de fazer um post com pouco texto e oferecer essas lindas imagens de Paraty. Que tal?

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6 thoughts on “Os belos casarões maçônicos de Paraty”

    1. Renan, seguidor e guia de turismo. Obrigado pelo comentário e agradeço o seu convite e então vamos combinar sim sobre o curso.

  1. Excelente.. Viajo em suas postagens.. Verdadeiro guia virtual.. Fotos lindas e explicações perfeitas..

    1. Claudia, amiga e seguidora do blog. Obrigado pelo seu comentário. Realmente tenho melhorado na qualidade das fotos, mas também Paraty é uma cidade muito fotogênica.

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