Estive na região da Andaluzia (clicar para ir ao mapa de sua localização), pela primeira vez, em 2009, e espero neste post descrever minha experiência agradável na cidade de Tarifa, localizada no litoral sul da Espanha, com o enorme privilégio de estar situada num ponto extremamente estratégico entre o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico. A surpresa e satisfação por estar num local excepcional e diverso provocaram-me uma sensação bastante rara. É claro que cada viajante poderá ter sua impressão particular ao se encontrar na ponta de Tarifa, onde ocorre a separação entre um oceano e um dos mares mais importantes do mundo, mas, por conta de minha formação como geógrafo, o sentimento desse momento foi muitíssimo diferente, e acredito que algo será sentido por qualquer turista.

A ponta de Tarifa e a placa indicativa do mar Mediterrâneo. Nesse momento o sol estava atrás de minha posição.
A ponta de Tarifa e a placa indicativa do oceano Atlântico. Nesse momento o sol estava em frente à minha posição, conforme a foto.

Guardo boas lembranças daquela viagem à Andaluzia em 2009, mas foi apenas agora, em 2022, que conheci Tarifa, pois naquele tour só cheguei ao litoral do Mediterrâneo quando estive por dois dias visitando a linda Mojácar. (clicar para ir ao mapa de sua localização) Prefiro começar a esclarecer que Tarifa e seu entorno não podem ser visitados num passeio do tipo “bate e volta” desde um centro andaluz que escolha, pois há muito o que ver e desfrutar. Sendo assim, espero apresentar um roteiro com pontos que confirmem que a cidade de Tarifa possui um encanto peculiar, despertando o desejo de conhecê-la. Sou um viajante que ama retornar aos lugares marcantes e ficar relembrando as sensações e emoções vividas, pode ser estranho, mas gosto muito de recordar os momentos tocantes do passado. Sendo assim, posso até pensar em voltar a Tarifa.

A bela Mojácar no alto de uma colina próxima do mar Mediterrâneo.
Praia de Mojácar, no mar Mediterrâneo.
A linda Mojácar, à noite, em 2009.
O píer de Tarifa visto a partir do castelo de Guzmán, el Bueno.

Mas, voltando a Tarifa (clicar para ir ao mapa de sua localização), começo a apresentar um destaque na cidade, o castelo de Guzmán, el Bueno, que se localiza próximo ao píer de onde saem os barcos que levam até a cidade de Tânger, no Marrocos, cruzando o estreito de Gibraltar e navegando pelo Mediterrâneo e pelo Atlântico. O nome do castelo vincula-se ao corajoso Alonso Pérez de Guzmán, que defendeu a cidade de Tarifa contra a ocupação dos mouros. Guzmán, el Bueno, teve seu filho capturado em frente aos portões de Tarifa, pelos mouros que exigiam a devolução da cidade e ameaçavam matá-lo se a cidade não lhes fosse restituída, mas o próprio Alonso Pérez de Guzmán ofereceu sua faca para que matassem seu filho, que foi morto. Assim, Tarifa foi ocupada em definitivo pelos cristãos a partir do séc. XIII, e, por esse ato, Guzmán, el Bueno, foi transformado em herói da cidade.

A entrada do castelo de Guzmán, el Bueno, durante o dia.
A entrada do castelo de Guzmán, el Bueno, durante à noite.

Tarifa foi habitada por fenícios, romanos, muçulmanos e cristãos, numa península rochosa que é o ponto mais meridional da Europa. Historiadores árabes citam a chegada à região de um berbere chamado Tarif, no ano de 710, o que pode ter originado o nome da cidade, que também pode ser uma derivação de tarf (“ponto” ou “extremo”, em árabe). O castelo, que hoje é conhecido com o nome do herói de Tarifa, foi construído em 960 por um califa mouro, dando origem ao recinto defensivo que resiste há tanto tempo, sendo um castelo dos mais bem preservados da Espanha. Num belo dia de sol, visitei o castelo de Guzmán, el Bueno, e fui muito bem acolhido por suas recepcionistas, quando realmente percebi que as muralhas, as torres e todas as estruturas ainda estão bem preservadas e fazem do castelo um polo de visitação bem interessante.

O belo castelo de Guzmán, el Bueno.

Após a visita ao castelo, o melhor que se pode fazer em Tarifa é caminhar pela calle Sancho IV, com um trajeto levemente tortuoso e que nos leva a um dos belos cartões postais da cidade: a Igreja de São Mateus Apóstolo. É uma rua cheia de charme, com belas luminárias, arbustos de tangerinas, lojas com estilo, bares modernos e a pastelaria Bernal, um raro local onde encontrei ótimos doces sem açúcar, como mil folhas com creme e torta de nozes. Nessa viagem, que comecei pelo norte de Portugal, passando por Paris, até chegar na região da Andaluzia, foi bem difícil encontrar pastelarias com doces sem açúcar, e por isso adorei a Bernal. Durante esse caminho, em vários momentos pude sentir a sensação de estar numa Tarifa onde o viajante pode desfrutar de belas cenas como as que eu capturei com minha máquina fotográfica. Vamos a elas.   

Calle Sancho IV com a Igreja São Mateus Apóstolo, ao fundo.
Igreja São Mateus Apóstolo.
Parte frontal da Igreja São Mateus Apóstolo.
Belas luminárias muito bem preservadas e um arbusto de tangerina.
Pastelaria Bernal, na calle Sancho IV número 3.
Vitrine da pastelaria Bernal.

Como já citado, Tarifa tem um importante porto com uma linha de ferry com diversos horários para Tânger, no Marrocos (clicar para ir ao mapa de sua localização), sendo o terceiro porto da Espanha em tráfego marítimo de passageiros, atrás de Algeciras e Barcelona. Algo deve ser lembrado aos brasileiros:  o visto para fazer a viagem ao Marrocos é exigido pelo país. Mas creio que em Tarifa já se sinta a presença árabe sem que se precise cruzar o mar Mediterrâneo e parte do oceano Atlântico, pois a cidade foi, durante alguns séculos, um dos portos mais importantes do estreito de Gibraltar, sob os impérios de Magreb (oriundos do norte do Marrocos), tanto na dinastia dos Almorávidas como dos Almoádas e outras que bem marcaram a política na região da Andaluzia do final do séc. X até sua expulsão pelos cristãos no séc. XV.

É interessante ver, no mapa abaixo, a localização de Tarifa, do oceano Atlântico, do estreito de Gibraltar, do mar Mediterrâneo e de Marrocos, que fica bem perto do sul da Espanha.

O ferry que liga Tarifa a Tânger, no Marrocos.
Em Tarifa, é comum a prática do kitesurf.
Praia de Bolonia, em Tarifa, local de concentração do kitesurf. Foto do site: https://wakeupstoked.com/kitesurf-tarifa-spain/

Tarifa é comumente conhecida como a capital do kitesurf na Europa, pois possui vento quase o ano todo, uma vida noturna animada e outras atividades. Em meu segundo dia na cidade, fui visitar a praia de Valdevaqueros (clicar para ir ao mapa de sua localização), que fica a aproximadamente 12 min, de carro, do centro e onde se concentram vários ricos praticantes desse esporte sofisticado, que requer boa situação financeira para ter acesso aos equipamentos necessários à sua prática. Os praticantes do kitesurf viajam o mundo todo para usufruir de bons ventos, como, por exemplo, a ilha Maurício, Montenegro ou a costa oeste do Canadá, entre outros pontos. Esse relato abaixo é de uma kitesurfista que parece gostar mais da ilha Maurício, pois se expressa da seguinte forma:

“Embora tenha demorado algum tempo – e uma segunda viagem – a conhecer melhor Tarifa, diria honestamente que não tem as melhores condições de kite do mundo. Mas a atmosfera, as vibrações e o estilo de vida que oferece são únicos na Europa e não atraem apenas os viciados em kitesurf”. (trecho relatado por Aloha ou Mirian do site  https://wakeupstoked.com/kitesurf-tarifa-spain/).

Para ver ou aprender sobre kitesurf, é importante saber que há períodos mais propícios, quando os ventos e a temperatura da água do mar fazem com que os mais viciados no esporte se refugiem em Tarifa. É interessante contar que, no dia em que visitei a praia de Valdevaqueros, percebi a presença de muitos nórdicos (noruegueses, suecos ou finlandeses) e alemães.

O melhor período seria entre os meses de abril e outubro, sendo que do final de junho ao início de setembro fica muito lotado, pois é época de férias gerais dos europeus. A direção do vento de oeste, ou poniente, é sempre mais fria, enquanto que o vento levante, ou de leste, onde o sol nasce, é muito mais quente. Tarifa não é ideal para iniciantes, mas, se você quiser aprender kitesurf, é um bom local. Apesar de minha pouca experiência, recomendo ir na primavera ou no outono, pois encontrará mais facilidade de hotéis e professores disponíveis mais baratos.

Valdevaqueros está no mapa do site: https://wakeupstoked.com/kitesurf-tarifa-spain/).
Os admiradores do kitesurf na chique praia de Valdevaqueros.
Um kitesurfista iniciando seu voo.
As pipas ou kites no céu azul de Valdevaqueros, com vento poniente ou levante.

Depois de voar com o kitesurf, vamos entrar na cidade de Tarifa, através da “Puerta de Jerez” que foi construída no século XIII, provavelmente numa época em que a cidade estava sob o controle de uma dinastia de origem do norte da África, quando houve necessidade de expandir a cidade para fora do local já amuralhado. Hoje já não possui papel de tamanha importância como principal porta de entrada de Tarifa, devido ao crescimento da cidade para além da região “intramuros”, mas sua estrutura externa permanece praticamente inalterada. O escudo, que se refere ao fato de o rei Sancho IV, o Bravo, ter indicado Guzmán, o Bom, para defender a cidade contra invasores, encontra-se em destaque no alto do portal.

A “Puerta de Jerez” é o lindo portal de entrada da cidade histórica de Tarifa.
A Porta de Jerez foi erigida pelos árabes.

Sem muitas descrições das fotos, passarei para que apenas curta:

Ruas e casarios brancos na cidade histórica de Tarifa.
Belo e singelo cantinho de Tarifa.
Lindo prédio com azulejo andaluz.
Igreja de São Francisco, dentro da cidade histórica “intramuros” de Tarifa, que tem uma fachada sóbria em estilo barroco e neoclássico.

Para concluir, vou relacionar mais fotos de pátios internos que chamam muita atenção, pois são lindos, todos sutilmente decorados com plantas, azulejos andaluzes e portas talhadas de um bom gosto sem igual:  

Como guardei boas recordações da Andaluzia, sempre quis voltar. Meu retorno ocorreu em abril de 2022, quando não pude deixar de visitar Tarifa, e confirmo que foi uma excepcional surpresa com suas belas vistas do castelo para o porto e as paisagens indescritíveis. Indico que, ao planejar uma viagem à Andaluzia, faça um roteiro até esse ponto mais ao sul da Europa. Vale muito, mas alerto para a necessidade de ter um carro para desfrutar dos passeios pelas praias e outros pontos nas redondezas. Boa viagem!

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4 thoughts on “Tarifa – o Mediterrâneo e o Atlântico.”

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