Foi perto de Tomar (clicar para ir ao mapa de sua localização) que começou a saga dos portugueses, no ano de 1147, quando a união dos cavaleiros Templários e Dom Afonso Henriques conquistaram as terras ocupadas pelos mouros, dando um grande passo para a formação do reino de Portugal. Portanto, bem antes da chegada de Pedro Álvares Cabral às terras de Pindorama, Portugal já se destacava e iniciava um futuro promissor numa Europa bastante beligerante, onde diferentes povos lutavam de forma violenta para conquistar e se apossar dos territórios subjugados. A chegada dos Templários em terras lusas, e precisamente na região de Tomar, fez com que a cidade se transformasse num polo de  aglutinação dos naturais do entorno e ajudou na instauração do reino de Portugal. A existência de históricas estruturas medievais assegura e comprova a importância dos cavaleiros Templários para Tomar. Descobrir tudo isso deixa qualquer viajante bastante motivado a voltar a Portugal.

A bela Ponte Velha de Tomar.

Não pretendo entrar em detalhes quanto ao surgimento da Ordem dos Templários no mundo, mas é importante conhecer um pouco sobre sua trajetória  em Portugal. Tudo começou em 1127, quando um cavaleiro visitou a região da Península Ibérica com o objetivo de recrutar membros e levantar apoio financeiro, recebendo então as primeiras doações de terras. Mas somente após a expulsão dos mouros, os Templários  fixaram-se em território luso, pois Dom Afonso Henriques os recompesou, após a vitória, com uma vasta posse de terras no centro do que hoje é Portugal. No início, eles ocuparam um castelo em ruínas, mas, em 1160,  o grão-mestre do grupo, senhor Gualdim Pais, decidiu construir um novo castelo no alto de um morro,  buscando um local estratégico para a defesa e posse do novo território da Ordem dos Templários. Esse é o Castelo de Tomar.

Portão principal para o Castelo de Tomar.
Muralhas do Castelo de Tomar.
Vista do Castelo de Tomar desde o Largo da Várzea Grande.
Cavaleiros da Ordem dos Templários.

Ilustração do site: https://aminoapps.com/c/assassins-creed-brasil/home/

Em Tomar ainda existem vestígios da época medieval, período que houve um  florescimento da cidade, mesmo que sejam poucos os que resistiram ao tempo e às remodelações urbanas. Muito incomum é a presença de dois arcos que faziam parte da antiga estalagem (conjunto de moradias populares, fixas ou temporárias, para viajantes) do séc. XIV. Por pesquisa, supõe-se que teria havido uns dezesseis arcos em Tomar, entretanto somente restam os dois que se encontram na esquina da rua dos Arcos e da Torres Pinheiro, num ponto de destaque da cidade. Esses arcos apresentam grandes semelhanças com os arcos do interior do Convento de Cristo (que será comentado mais adiante), sendo assim, essas construções possivelmente foram feitas pelos mesmos pedreiros.

Cruz de Malta – Símbolo dos Templários
Os belos Arcos de Tomar num efeito à noite.
Os arcos de Tomar, que faziam parte da antiga estalagem medieval do séc. XIV.
Placa turística no Largo da Várzea Grande. Ao fundo, o Castelo de Tomar. A letra “O” representa a “cruz de Malta”, símbolo dos Templários.

Para entender a relação de Tomar com a história de Portugal (clicar para ir ao mapa de sua localização), é importante e necessário visitar essa peculiar cidade, mas caso não possa programar essa viagem, espero que eu o leve a absorver um pouco do que vi, e assim eu consiga lhe provocar uma vontade de embarcar para Portugal. Eu volto, pois, na terceira vez em terras portuguesas, constatei que o país está bem preparado para receber os turistas, mesmo aqueles mais exigentes. E, na minha visão, o país está com uma estrutura notável para o turismo. Pode ser bobagem, mas assumo que, mesmo com tantos pedágios pelo país, vale muito apreciá-lo através de suas boas estradas.

Auto-estrada de pista dupla em Portugal.

Quero relatar os momentos importantes que vivi em Tomar, quando constatei que é uma cidade incrível, com uma rica história da força e presença dos cavaleiros Templários, que tiveram papel importante na luta para a formação do reino de Portugal. Em Tomar essa história não se perdeu e é sentinda nas esquinas, nos prédios, no orgulho dos moradores e na existência dos resquícios históricos. Como sou um viajante com aguçada percepção espacial e que agrega conversas com os moradores locais, percebi que eles expressam, de forma natural e humilde, um orgulho de serem herdeiros dos Templários, mesmo que eles tenham se aliado, em algum momento, aos inquisidores e perseguido hereges. Esses fatos históricos são dúbios, mas a presença do Castelo de Tomar e do Convento de Cristo jamais negam o passado. A obra dessa bela fortaleza foi iniciada em março de 1160 e é composta por castelo, convento, igreja dos Templários, cinco claustros e etc, que foram construídos ou ampliados e reformados na época de Dom Manuel I, rei de Portugal (sécs. XV e XVI).

Parte exterior da Igreja dos Templários no Convento de Cristo, bela fortaleza de Tomar.
O prédio do Convento de Cristo e, à direita, a torre sineira e o teto da Igreja dos Templários.

O Convento de Cristo foi vinculado anteriormente à Ordem dos Templários, que foi fundada não com o intuito de auxiliar peregrinos e doentes, mas sim para combater de imediato os infiéis. A Ordem compreendia quatro classes: os cavaleiros, os escudeiros, os irmãos leigos e os sacerdotes. Todos aqueles que entravam para a Ordem juravam combater os seus inimigos, defender a fé cristã e os lugares santos, principalmente se dirigindo à região de Jerusalém, com as Cruzadas católicas. Os cavaleiros Templários tinham que fazer votos de pobreza, obediência e castidade.

Principal portão para o acesso ao Convento de Cristo, na fortaleza de Tomar.

Fiquei quatro dias em Tomar, pois queria usufruir das opções que a cidade oferece, assim como conhecer o castelo de Almourol, vinculado aos Templários e localizado numa ilhota no rio Tejo, e também ir a Dornes (locais que serão abordados num próximo post). Visitei numa tarde o Convento de Cristo, que levou longos seis séculos para ser concluído, do séc. XII até o séc. XVIII, pois foi recebendo novas edificações e ampliações. Acho que já ficou claro que o Convento de Cristo é o nome atribuído a um conjunto histórico e arquitetônico diversificado e notável. Em minha visita, fiquei bastante apaixonado pela Igreja dos Templários, que é conhecida como a “Charola Templária”. Entende-se o que é “charola” quando se visita a igreja e percebe-se que ela é completamente redonda, semelhante a uma “rotunda” (palavra em espanhol que significa rotatória em português). A igreja do séc. XII possui um corredor que circunda o entorno do altar-mor e assim permite ao visitante circular por toda ela. A sensação desse andar ou caminhar girando na “Charola Templária” é incrível, pois tudo é fabuloso: pinturas no teto e nas paredes, estátuas em madeira policromáticas, arcos, colunas e abóbodas, numa confluência dos estilos românico e gótico, que é o estilo arquitetônico que mais me encanta numa igreja. Tudo é de rara beleza, e fiquei literalmente hipnotizado. Vamos às fotos da linda Charola dos Templários.

Interessante é ver o detalhe da Cruz de Malta, que simboliza a Ordem dos Templários.

Tomar foi a cidade onde me hospedei por quatro dias, pois sabia que teria muito a explorar, tanto no entorno quanto na visita ao Convento de Cristo. Tenho muito mais fotos de Tomar e por isso escreverei outro post sobre ela, mas, por enquanto, acho interessante proporcionar um vídeo para que percebam o esplendor e a grandiosidade desse monumento que é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.   

Vídeo do site: www.Portugalns.pt

A fortaleza do Convento de Cristo é impactante, entretanto, no dia da visita (31 de maio de 2022) não foi possível passear e desfrutar de todas as suas partes, pois alguns locais estavam sendo usados para a filmagem de uma produção americana. Eu, particularmente, tive dificuldade de estacionar perto do convento, numa segunda-feira, dia em que fui avisado que a tal produção já estava encerrada, mas não foi o caso. A Câmara de Vereadores de Tomar cedeu todo o entorno para a produção do filme e impediu os turistas de se deliciarem com a beleza do Convento de Cristo. Eu permaneci mais um dia em Tomar para poder ver o que não usufruí no primeiro dia de visita.

Mais belas fotos do Convento de Cristo:

Palácio em ruínas onde morou o rei Dom Fernando II e sua esposa, Dona Maria II.
Claustro Grande ou de Dom João III, do séc. XVI, inspirado no estilo renascentista italiano.
Belo detalhe do claustro de Dom João III.

Em 1845, D. Maria II, acompanhada por seu esposo, Dom Fernando II de Portugal, instalaram-se no convento. Sete anos mais tarde, o rei ordenou a demolição do piso superior do Claustro de Santa Bárbara e do primeiro e segundo pisos da ala sul do Claustro da Hospedaria, para permitir uma melhor visualização da fachada lateral da igreja que havia sido reconstruída no séc. XV, principalmente da Janela Manuelina, a oeste, que ficara obstruída pelas edificações renascentistas. O palácio onde morou o rei Dom Fernando II e sua esposa, Dona Maria II, no séc. XIX, de 1845 até 1853, encontra-se em ruínas.

Corredor do Claustro de Dom João III.

Do Convento de Cristo vou apenas citar e dar poucos detalhes dos claustros, onde alguns turistas se perdem no labirinto de corredores. Eu, fiquei perdido, e às vezes, não tinha noção em que claustro me encontrava, pois estava preocupado, entre um corredor e outro, a me ater aos detalhes das colunas, às naves e os tetos ornados. Se o visitante for meticuloso, vai verificar que há dois longos corredores em cruz que interligam os quatro principais claustros, que em conjunto formam um enorme quadrilátero. Acredito que tenham percebido bem essa disposição do convento nas imagens do vídeo que foi postado anteriormente. Os principais claustros são:

1 – Grande ou Dom João III

2 – Hospedaria

3 – Corvos

4 – Micha

5 – Santa Bárbara

6 – Cemitério

O claustro gótico do Cemitério é pequeno e não consta na lista dos principais, entretanto, é belo ao sobressair os azulejos portugueses.
A Janela Manuelina é um símbolo muito importante e marcante na parte detrás da Igreja do Convento de Cristo.
Planta com a distribuição dos elementos arquitetônicos que englobam o Convento de Cristo

Imagem do site : https://br.pinterest.com/pin/505318020673706284/

Prometo que farei outro post de Tomar para que conheçam o centro histórico da parte plana da cidade, que possui uma forma rara em cruz, com um convento em cada um dos pontos cardeais: o antigo Convento da Anunciada, ao norte; o Convento de São Francisco, ao sul; o Convento de Santa Iria, a leste; e o maravilhoso Convento de Cristo, a oeste. Minha despedida de Tomar foi mágica, com uma linda noite, em que, sentado em uma confeitaria às margens do rio Nabão, me emocionei vendo a fortaleza de Tomar toda iluminada. Como não tenho uma câmera com alta resolução e que capture toda a beleza de uma imagem, a foto ficou boa, mas não excelente. Estava num misto de sensações, triste porque a viagem chegava ao fim e eufórico, pois planejava voltar a Tomar.

Fortaleza de Tomar iluminada, a partir de local na parte plana da cidade. Foto à noite, tomada com distância da cena, logo a resolução é baixa na captura.

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11 thoughts on “Tomar – cidade dos Templários.”

  1. Tomar é uma cidade mágica. Há anos que me delicia e atrai. Por isso e desta vez definitivamente vivo a escassos km. Trocando Lisboa pelo campo. A sua visita e descrição são bem o espelho do sentimento que me toma, ainda hoje, sinto ao andar por Tomar.
    Que os cidadãos nunca percam as raízes e a memória. Mesmo tirando a relação pessoal mas nunca esquecendo os nossos primórdios de…. Nação. Regressaremos então a Tomar.

    1. Maria José. Adorei o seu comentário. Que bom que você entendeu o meu objetivo em ressaltar a rica história de Tomar, como um epicentro de Portugal. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..

  2. Adorei viajar através da descrição e das fotos. Gratidão! “Quem escreve desperta um horizonte e quem lê viaja além do horizonte.”

    1. Geralda. Adorei o seu comentário. Que bom que você entendeu o meu objetivo em ressaltar a rica história de Tomar, como um epicentro de Portugal. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..

    1. Ubiratan. Adorei o seu comentário. Que bom que você entendeu o meu objetivo em ressaltar a rica história de Tomar, como um epicentro de Portugal. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..

  3. Que cidade maravilhosa!!!
    Lindo o trabalho que tem sido desenvolvido por @novosterritorios.com
    Espero em breve estar lá.

    1. Robson. Adorei o seu comentário e espero que conheça Tomar. O meu texto tem o objetivo de ressaltar a rica história de Tomar, como um epicentro de Portugal. Que bom que você gostou. Aguarde em janeiro novos posts da França, um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..

  4. Muito obrigada, meu amigo Ronaldo por proporcionar essa fantástica viagem ao passado e de encontro com o presente, .
    Seu relatório sobre Tomar realmente aguça uma vontade de viajar com a pretensão de vivenciar ao menos um pouco da emoção que você sentiu ao adentrar nestes fantásticos monumentos históricos .
    Você é uma pessoa muito especial, e emotiva com um olhar único, como sempre suas fotografias encantaram meus olhos .
    Parabéns ao Novos Territórios , que incrível lugar para viajar .

    1. Anne Kliesse. Que bom que você gostou e ficou encantada com as fotos de Tomar. Aguarde em janeiro novos posts da França para ficar mais impactado. Um de Paris, do quartier de la Mouzaïa e outro de Antibes, da Côte d’Azur…..

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