Atenas e o encantador bairro de Plaka

Eu estive em Atenas duas vezes, a primeira foi em 1995 e a segunda, em 2019. Já na primeira viagem fiquei apaixonado pelo bairro de Plaka, no entanto alguns turistas não gostam, como um amigo que achou o bairro feio e pobre e disse que o bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, é mais bonito. Eu discordo. Analise e tire a sua conclusão.

O bairro de Plaka é conhecido como Bairro dos Deuses porque está situado no sopé da encosta, sob a sombra da Acrópole de Atenas, e próximo de outros templos antigos, como, por exemplo, do belo Portão de Atenas, que se localiza numa posição oeste da Ágora Romana.

As ruas estreitas e de pedra no bairro de Plaka são repletas de lojas que vendem artesanatos locais, bustos de mármore de antigos gregos, cerâmica local, souvenirs para turistas, além de cafés com mesas na calçada e as tavernas familiares. Creio que os objetos em mármore são belos adornos de decoração, então em 1995 comprei o busto do rei Alexandre, o Grande e na viagem de 2019 adquiri uma singela Vênus de Milo, num alvo mármore grego.

Uma atmosfera de cidade pequena, com um encanto raro e gracioso domina o bairro, e na estação da primavera os arbustos de diferentes tipos de flores enfeitam ruas e formam sombras em simpáticos restaurantes, realçando assim a sua beleza.

Essa atmosfera bucólica foi o que mais me atraiu no bairro de Plaka desde 1995. Os restaurantes típicos com a boa comida grega são maravilhosos. Comer uma boa mussaka acompanhada de um vinho de resina grego é algo muito saboroso. A mussaka, ou moussaka, é feita com carne de cordeiro picado, berinjelas, batatas, molho bechamel, cebola, alho, tomate, azeite, ervas e coberto com queijo. Infelizmente, no Rio de Janeiro não temos restaurantes gregos, por isso eu indico o excelente Restaurante Acrópoles, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Logo, para saborear a boa comida grega, uma boa mussaka, como a que comi na ilha de Paros, temos que ir à Grécia ou a São Paulo.

Foto do site: https://www.turismogrecia.info/blog-turismo/top-7-coisas-para-ver-em-plaka/

O melhor que um viajante pode fazer é passear pelo bairro, que ainda conta com pequenos museus, antigas igrejas bizantinas, vilas de moradores locais, joalherias tradicionais, além de lojas de produtos locais como essências e temperos típicos da Grécia. Um amigo de Bremen, para onde viajei após Atenas, me encargou de comprar um ramo de orégano seco, algo que desconheço se existe no Brasil.

A maioria das lojas exibe uma certa repetição de produtos, entretanto há algumas que vendem antiguidades, ícones ortodoxos pintados à mão, esculturas, pinturas e móveis em madeiras. Eu descobri uma dessas lojas de objetos antigos para decoração muito simpática. Como o alfabeto grego é muito diferente do nosso alfabeto latino, mesmo que tenha se originado daquele, ficou complicado entender o nome da loja, mas, como pude apurar, é Elliniko Spiti, localizada na rua Kekropos, nº 14. Para melhor conhecer o artista, indico o site: https://www.athenskey.com/elliniko-spiti.html.

No dia da visita à Acrópole já estava decidido de almoçar no Restaurante Dióskouroi, no sopé do belo monumento clássico, então tomei a direção norte à direita, pegando um caminho que me levasse até o bairro de Plaka. Não é difícil localizar. Através da rua Peripatos, continue descendo até a rua Penatenaicos e logo se chega à rua Dioskouron, onde se encontra o restaurante com boas referências. Minha pedida foi um assado de cordeiro com batatas, acompanhado por uma excelente sangria. Eu adoro a cozinha grega.

Após o almoço me lancei em passeio a esmo pelo bairro até que cheguei na Praça Mitropoleos, onde se localiza a Catedral da Anunciação de Santa Maria ou Catedral Metropolitana de Atenas, vinculada à Igreja Ortodoxa Grega. Ela foi construída em meados do século XIX, por ordem do rei Oto I, apresentando um total de três naves e uma cúpula. O interior é de uma grande riqueza ornamental, com diversos ícones ortodoxos. Em 1999, o terremoto que sacudiu a capital pôs em perigo sua estrutura arquitetônica, e então deu-se início a uma obra de restauração, mas em 2019 já estava aberta para visitação.

Lembra da expressão: “Será que estou falando grego?”, usada quando você não está sendo compreendido? Isso ocorre pelo motivo de ser o grego uma língua muito difícil. No entanto, no português nós conhecemos mais palavras gregas do que imaginamos, como, por exemplo: biblioteca, academia, democracia, geografia e tantas outras. Então, para desfrutar e conhecer um pouco mais do bairro, que tal a Biblioteca de Adriano e suas belas ruínas?

A Biblioteca de Adriano foi construída a pedido do imperador romano Adriano, no ano de 132 d.C., aos pés da Acrópole de Atenas, para abrigar sua coleção de livros. O edifício da biblioteca era muito semelhante ao estilo arquitetônico do Fórum Romano, tendo uma entrada com um pórtico com belas colunas coríntias, um pátio interno cercado por colunas e ao centro uma piscina decorativa.

Na Biblioteca de Adriano havia muitos rolos de papiros, os livros da época, além de salas de leitura, cujos cantos serviam como salas de aula. Originalmente, tinha o tamanho de 122 x 80 metros e era cercada por uma galeria composta por cem colunas. Por isso era conhecida também como a biblioteca das cem colunas.

Caminhando pelo bairro de Plaka, me deparei com uma impressionante porta que inicialmente não tinha ideia do que se tratava, mas tomei a foto. Então, ao pesquisar, fiquei fascinado pela história da ruína. A porta é o que resta da entrada de uma escola teológica islâmica, construída em 1721, no período da ocupação turco-otomana na Grécia. No centro da escola existiu uma grande árvore, sob a qual os líderes muçulmanos promoviam os seus encontros. Com o término do período de ocupação turco-otomana, em 1830, o local da “Madrasah”, denominação dada às escolas muçulmanas, foi transformado numa severa prisão e a árvore foi usada para o enforcamento de vários prisioneiros, prioritariamente gregos traidores e turcos. Para continuar a pesquisa indico o site: https://www.atlasobscura.com/places/doorway-of-the-madrasa.

A Madrasah Gate encontra-se na rua Pelopida, em frente à Torre dos Ventos. Esta bela obra toda construída em mármore, na forma octogonal, deve ter sido idealizada por Andrônico de Cirro, um astrônomo grego, por volta do ano de 50 a.C. Pode ser considerada a primeira estação meteorológica do mundo e está dividida em três partes: um relógio de sol, um relógio de água e um cata-vento. É uma linda torre onde os detalhes esculpidos no mármore são de uma beleza indescritível.

Plaka carrega muitas surpresas e é um dos bairros mais agradáveis de Atenas. Eu particularmente sou daquele tipo de viajante, mesmo sabendo que chegarei ao final do dia bem cansado, eu caminho e caminho. Neste espírito de andarilho urbano é que vamos descobrindo restaurantes, portais intrigantes, como Madrasah Gate, ruas enfeitadas com sombrinhas coloridas, confeitarias com doces gregos maravilhosos. Eu sempre indico aos viajantes que o mais impactante de uma viagem é sempre algo que descobrimos sem ter tido ideia de sua existência ou sua relação com a história do lugar, portanto ao caminhar por Plaka perceberá que é um bairro perfeito para descobertas interessantes.

Atenas é uma cidade muito grande e possui infinitas possibilidades de passeios para um visitante. Este é o meu segundo post e creio que ainda devo escrever outro sobre essa interessante cidade, pois ainda me falta dissertar sobre minhas experiências no bairro de Kolonaki, local da burguesia grega, além do Museu da Arte Cicládica, do Templo de Zeus Olímpico, do Jardim Nacional, e sobre o enigmático bairro de Metaxourgeio, que significa Fábrica de Seda.