Ter o privilégio de conhecer uma tribo indígena bem próxima do Rio de Janeiro pode parecer algo novo e até mesmo raro, mas não é. Em Paraty (clicar para ir ao mapa de localização da cidade) existem dois grupos étnicos (Guarani e Pataxó) assentados em terras que lhes foram designadas, mas que, na realidade, sempre pertenceram a eles. No início de agosto, ao visitar Paraty, conheci uma aldeia indígena localizada num local paradisíaco, no Km 548 da Rodovia Rio –Santos (BR – 101), no distrito de Tarituba, distante 30 Km da sede do município. A Aldeia Pataxó Hã-Hã-Hãe (clique para ir ao mapa de localização da aldeia) conserva hábitos, costumes e tradições semelhantes à etnia Tupinambá, situando-se numa região com preservação de florestas, córregos, praia nativa e cachoeira.

A Praia do Iriri é bem nativa e encontra-se dentro da área demarcada da Aldeia Pataxó. Foto: @laradias.

Paraty é uma cidade rica em diversidade cultural, ecológica, étnica, artística e histórica. É um paraíso que merece ser conhecido e explorado nos seus mínimos detalhes. No meu primeiro post sobre a cidade (https://novosterritorios.com/paraty-historias-e-beleza-natural/) relatei aspectos relevantes desse território, destacando minha relação profissional com ele, sua história e suas belezas naturais. Não conhecia até então a tribo dos índios Pataxó, que vieram do litoral sul da Bahia em busca das raízes de seus antepassados, chegando a Paraty em 2005 para ocupar inicialmente uma área em Angra dos Reis. A Aldeia Pataxó foi implantada em Paraty em 2016, e até os dias atuais sua população foi reduzida de 120 para os 62 indígenas que hoje vivem ali.

A Oca Sagrada da Aldeia Pataxó, local de belos rituais.
A dança é vital para a integração e a conexão espiritual com os antepassados.
Placas com o objetivo de levar aos visitantes um aprendizado quanto à preservação da natureza.
O cacique Hãgüi, também conhecido como Leonardo, no momento da entrevista.

A Aldeia Pataxó é uma pequena mostra de que a natureza pode e deve ser preservada. Em sua entrevista, o cacique Hãgüi (também conhecido como Leonardo), relatou com muito prazer que o mais essencial para o grupo é demonstrar aos visitantes, nos mínimos detalhes – já que o homem branco ainda não aprendeu -, que preservar a natureza significa a manutenção e a sobrevivência de nossa espécie.

No momento da entrevista na Aldeia Pataxó, eu e o cacique Hãgüi.

Interessante é a explicação da escolha da área onde a Aldeia Pataxó está assentada atualmente. Segundo o cacique, foram guias espirituais indígenas que indicaram o território, por ter sido o local de uma aldeia importante dos Tupinambás no passado. A negociação para que a ocupação fosse reconhecida e tivesse direito à permanência na terra foi intermediada entre a FUNAI e o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). A área em questão estava destinada à construção de um resort, o que poderia resultar na destruição de boa parte da natureza virgem. Hoje a tribo dos índios Pataxó considera o território de aproximadamente 70 hectares como uma “área sagrada” que por isso mesmo necessita ser preservada. 

É importante não esquecer o que o artigo 231 da Constituição Federal fala sobre o reconhecimento e o respeito aos direitos indígenas:

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. 

Trilha no território indígena da Aldeia Pataxó.
A Cachoeira do Iriri na Aldeia Pataxó.
A Unidade Básica de Saúde (UBS), construída com recursos próprios e doações de apoiadores, fica localizada no interior da Aldeia Pataxó.
Linda criança indígena pataxó. Foto: Pedro Nunes.

Destaco também que a Aldeia Pataxó recebe de braços abertos todo e qualquer turista nacional ou estrangeiro. Creio que você vai gostar de passar um bom tempo em convivência com os hospitaleiros índios da tribo de Paraty, que vivem, dentre outros recursos, da visita dos viajantes e da comercialização do artesanato produzido com fibras colhidas da floresta e pequenas sementes, sendo elaborado manualmente, dando forma a cestas, cocares, colares, pulseiras, arcos, flechas etc. A visita à Praia do Iriri é regulada pelos índios Pataxó, já que ela se encontra dentro da área demarcada. Adiante indico os contatos para que você possa usufruir de um passeio à praia nativa.  

Produtos do artesanato dos índios postos à venda nas ruas do Centro Histórico de Paraty.

Como tantas famílias do Brasil e do mundo que sofreram com a pandemia, os indígenas da tribo Pataxó também passaram por momentos difíceis com a crise sanitária causada pela Covid-19. O que mais abalou a Aldeia Pataxó foi o declínio financeiro, pois sem a renda dos turistas eles precisaram procurar ajuda através de campanhas nas redes sociais, contar com o apoio de doações de diferentes instituições, além de  implementar rifas de objetos artesanais indígenas e buscar receber cestas básicas de moradores solidários de Paraty. 

Contatos da Aldeia Pataxó:

1 – Marcar visitas: (24) 99229-3931 (Cacique Hãgüi pataxó) | (24) 99228-5375 (Apohinã pataxó) | (24) 99313-8172 (Mayõ-íhé pataxó)

2 – Instagram: https://www.instagram.com/pataxoparaty_oficial/

3- Facebook: https://www.facebook.com/iririkanapataxiuitanara/

Como já foi citado anteriormente, a Aldeia Pataxó dista apenas 30 Km do Centro Histórico de Paraty. Fundada em 1677, a cidade  teve grande importância econômica com a criação do porto, que foi a entrada de milhares de negros traficados, cuja grande parte foi vendida para a região das Minas Gerais e forçada a trabalhar na extração do ouro, enquanto que outra ficou na cidade e construiu Paraty, ou seja, o Centro Histórico foi erguido com o esforço dos negros escravizados. Assim como em outras partes do Brasil, nessa cidade colonial não foi diferente, foram eles que britaram pedras, amassaram a massa, revestiram os belos casarões, construíram o calçamento, o presídio, a casa de comercialização dos escravos, o pier do porto, as igrejas etc.

Em Paraty tudo foi erguido e construído com o suor e o esforço dos negros escravizados. A maré cheia faz refletir o belo casario.

Foto do site: https://s204818.gridserver.com/wp-content/uploads/2019/11/Centro-Hist%C3%B3rico.jpg

Os índios não fizeram parte desse processo de construção de Paraty, pois, com a chegada do homem branco, algumas tribos migraram para o interior do país e os que permaneceram no litoral foram morrendo em epidemias. Descrevem os historiadores e estudiosos que os indígenas eram muito frágeis às ondas de febres e doenças, e que, em alguns casos, as tribos ficavam inteiramente enfermas, vendo morrer vários de seus índios. As histórias das epidemias são narradas desde os primeiros contatos com o colonizador.

Hoje os índios que habitam o estado do Rio de Janeiro não passam de 800, mas no século XVI eram milhares. É impossível precisar um número. Estatísticas do IBGE dizem que poderiam somar 97 mil. O número, no entanto, é considerado conservador pelo historiador Marcelo Lemos, especialista em história indígena e doutorando da UFF, que calcula que a população poderia ter ultrapassado os 150 mil. O importante é que os poucos índios que vivem em Paraty, distribuídos por quatro aldeias, são necessários à preservação de um território nativo de Mata Altântica.

Os índios Hayapó Pataxó, 41 anos, e Auiri Pataxó, 19 anos, na Cachoeira de Iriri.

Para que se tenha uma ideia da Aldeia Pataxó, escolhi esse vídeo em que um grupo de alunos de uma escola pública visitou a tribo dos índios de Paraty e um profissional (www.tiagocostaproducoes.com.br) fez uma linda filmagem com drone da visita, de um ritual na aldeia, da cachoeira e da praia de Iriri que se encontram na reserva indígena. É valioso perceber a beleza e a preservação da terra dos índios de Paraty. Vamos ao vídeo.

A rua do Fogo é um dos pontos mais fotografados de Paraty. Ela foi a antiga rua das prostitutas no período colonial e tem um autêntico calçamento pé de moleque.

Mural de fotos da Aldeia Pataxó Hã-Hã-Hãe.

No centro da Oca Sagrada, o ritual do fogo.
Um momento de oração dos indígenas da tribo Pataxó.
As índias da tribo Pataxó.
Os índios da tribo Pataxó.

Como já destaquei anteriormente, estive em Paraty em agosto para colher informes sobre os índios da Aldeia Pataxó, além de tudo sobre a Festa do Rosário e do Quilombo do Campinho. Meu objetivo foi ter mais material e fotos de Paraty para a produção de novos posts dessa linda cidade colonial, entretanto ainda não destaquei a sorte grande que tive ao escolher para minha estadia a Pousada Casa de Paulo Autran, uma Guest House excepcional, com tudo de primeira, um serviço de categoria cinco estrelas, numa linda e charmosa casa colonial no Centro Histórico, que foi moradia do grande ator. Além de tudo, tive o mais importante: o carinho, o acolhimento e a hospitalidade da proprietária e sua fiel escudeira, Patrícia e Rita. Para aguçar um gostinho de que, indo a Paraty, não pense em outra pousada, senão na Casa de Paulo Autran, destaco o vídeo. 

Pousada Casa de Paulo Autran

A fachada da Casa de Paulo Autran na Rua Aurora n º 192, no Centro Histórico de Paraty.
O salão do maravilhoso café da manhã.
Sala de estar com cachaça de Paraty, um delicioso aperitivo de cortesia.
Varanda para um bom descanso.

Que tal então passar alguns dias na casa que pertenceu ao grande ator Paulo Autran, no Centro Histórico de Paraty?

Contatos da Pousada Casa de Paulo Autran:

1 – Reservas: (11) 97083-2075 (Ângelo)

2 – E-mail: acasadepauloautran@gmail.com

3 – Instagram: https://www.instagram.com/acasadepauloautran

4 – Twitter: https://www.twitter.com/acasadepauloaut

5 – Site: https://www.acasadepauloautran.com/

Acredito que alguns saibam que Paraty, desde outubro de 2017, foi indicada a integrar a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia. Essa indicação é bastante importante, pois confirma a existência de um polo gastronômico de alto gabarito na cidade. Sendo assim, mesmo que digam que os preços são altos, refute, pois vale muito saborear um bom prato num restaurante da cidade. Vou indicar a seguir dois bons restaurantes de Paraty.

Numa viagem, quando se vive momentos de puro prazer e plena satisfação ao saborear uma boa comida, jamais se esquece. Em Paraty esse momento ocorreu no excelente jantar no Restaurante Caminho do Ouro, e tenho certo de que não o apagarei de minha memória. Antes da escolha do restaurante, pesquisei, li dicas importantes e percebi que havia sempre rasgados elogios ao Caminho do Ouro. Então, mesmo depois de muito analisar a qualidade dos restaurantes, tive a boa sorte de confirmar que merecidamente essas manifestações positivas eram totalmente verdadeiras.

Fachada do Restaurante Caminho do Ouro, na rua Dr. Samuel Costa nº 236.

O atendimento foi impecável num ambiente charmoso em pleno Centro Histórico, bem próximo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O cardápio oferece pratos contemporâneos inspirados na culinária local de Paraty, tipicamente caiçara, mas com toques e misturas da cozinha internacional. A chef Ronara é de uma competência ímpar. No jantar dos deuses foi servido um magnífico “cuisse de canard com risoto ao funghi”.

Contatos do Restaurante Caminho do Ouro:

1 – Reservas: (24) 98876-1899

2 – Site: http://www.restcaminhodoouro.wixsite.com/paraty

3 – Instagram: https://www.instagram.com/caminhodoouro/ 

4 – Endereço: R. Dr. Samuel Costa, 236 – Centro Histórico.

5 – Slogan: “Servimos Emoções”.

A decoração do interior do restaurante Caminho do Ouro é de extremo bom gosto.
Quem não fica com água na boca com esse sofisticado prato?
Camarões e robalo são pratos importantes no cardápio.

Eu já estive em Paraty algumas vezes, tanto no período em que era geógrafo do estado do Rio de Janeiro quanto mais recentemente, em agosto. Então, afirmo que visitar o Restaurante do Quilombo será uma experiência para apreciar pratos típicos da época da escravidão e creio que ninguém saia arrependido. O restaurante é um local simples, com preços variados e cardápio de abrir o apetite, podendo escolher a feijoada, muito bem servida com arroz, couve, laranja e farofa com torresmo; o azul-marinho, um prato de peixe com banana verde feito como antigamente; o bobó de camarão, feito com aipim da terra; e o peixe à moda quilombola, grelhado, com farofa de banana da terra, camarão e pupunha na manteiga, entre outras sugestões. Vai ficar difícil escolher.

O Restaurante do Quilombo, em Paraty.
Cozinheiras e os panelões do Restaurante do Quilombo.

Interessante é saber que o Restaurante do Quilombo pratica uma culinária sustentável, utilizando produtos que são cultivados no local, sem agrotóxicos, e por isso bem mais saudáveis e com mais sabor. Um ex-presidente da AMOQC, Vagner do Nascimento, relata a história do restaurante fundado em 2007:

“No início do restaurante foi difícil. Pouca gente conhecia o lugar, não havia atrativos e o fato de estar distante, fora do circuito da gastronomia de Paraty não ajudava muito. Mas a vontade era grande e no dia a dia fomos ganhando adeptos, parceiros. Hoje estamos praticando a culinária sustentável, usando ao máximo os produtos da terra em pratos elaborados e feitos pela comunidade. Afinal, a experiência que temos na cozinha vem dos nossos ancestrais” (trecho retirado do site: http://www.paraty.com.br/blog/quilombo-do-campinho/ ).

A saborosa feijoada do Restaurante Quilombo.
Um dos pratos do Restaurante do Quilombo: a moqueca de peixe.

Contatos do Restaurante do Quilombo do Campinho:

1 – Reservas e informes: (24) 99826 6214 (Ariane) ou (24) 99861 1380 (Daniele Elias)  

2 – Instagram: https://www.instagram.com/restaurantedoquilombo/

3 – Facebook: https://www.facebook.com/restaurantedoquilombo/

4 – Endereço: Rodovia Rio–Santos (BR-101), na altura do Km 588, Paraty

O blog ainda voltará a falar sobre essa linda cidade colonial do estado do Rio de Janeiro, enfocando as belas cachoeiras, os famosos alambiques, a história de suas igrejas, os preservados casarios coloniais e o turismo sustentável nas ilhas e praias. Acredito que Paraty mereça uma visita de uma semana para melhor conhecê-la. Eu estarei por lá entre os dias 16 e 22 de novembro para a Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e o Dia da Consciência Negra. Vamos?

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