Quando planejava minha última viagem pela linda Espanha já era certo entrar por Barcelona e sair por Bilbao, e de carro por dezessete dias teria a oportunidade de conhecer várias vilas, cidades e regiões do norte e nordeste do país. Como bom apreciador de vinhos, não poderia deixar de me deter por alguns dias na região de Rioja Alavesa, que, na minha opinião, produz bons vinhos espanhóis. Meu grande amigo Bruno, apaixonado pela Espanha, indicou-me vilas e cidades imperdíveis naquela região.
A Espanha tem uma divisão administrativa complexa, logo é um pouco confuso entender a localização da região de Rioja Alavesa, mas fica mais fácil ao ver o mapa e a explicação a seguir. O país organiza-se territorialmente em municípios, em províncias, como Álava, e em dezessete comunidades autônomas, que são idênticas aos estados federados do Brasil. La Rioja e País Basco são duas das comunidades autônomas da Espanha, e a região de Rioja Alavesa localiza-se no País Basco e em parte da província de Álava. Fique claro, então, que a região que vou detalhar não se encontra na comunidade de La Rioja. Veja o mapa.
Essa é uma região importante na produção de bons vinhos na Espanha, limitada ao norte pela bela Serra de Cantabria e ao sul pelo rio Ebro, faz fronteira com a comunidade autônoma de La Rioja. Na Espanha, o nome Rioja é a definição de origem dos vinhos produzidos nas áreas vinícolas das comunidades autônomas de La Rioja e no País Basco, logo os vinhos da região Rioja Alavesa têm essa denominação qualificada e são bem conhecidos por apreciadores.
Quando cheguei à região de Rioja Alavesa fui direto para a cidade de Kripan, pois me hospedei na Casa Rural Mercedes Etxea, a 11 km de Laguardia, a principal cidade da região. Foi uma escolha providencial, pois o preço era o mais convidativo, e com uma boa surpresa: o hotel é administrado por Marli Martins, uma amável brasileira.
O município de Kripan, eminentemente rural, tem uma população com apenas 184 habitantes (2017) e é uma das cidades mais altas da região, com 690 m de altitude. A maioria da população vive da agricultura, predominando o cultivo de uvas, trigo, batatas e legumes em geral.
Foto do site: http://irungomendizaleak.com/genevilla-kripan/
No planejamento da viagem à Espanha, pensei que visitar Laguardia poderia ser imprescindível, pois, como sou bom apreciador de construções medievais, desejei conhecê-la, já que havia sido fundada em 1164, cercada por muros de até dois metros de altura e com cinco portões de acesso ainda preservados.
Por volta do ano 908, o rei de Pamplona, Sancho Garcés I, mandou construir um castelo sobre um morro com a finalidade de defender a região, hoje conhecida como Rioja Alavesa, dos ataques dos árabes e dos exércitos do reino de Castilla. Assim, Laguardia nasceu com uma função militar.
Da mesma linhagem ou dinastia do rei Sancho Garcés I, que construiu o castelo de Laguardia, o rei Sancho VI de Navarra fundou a cidade em 1164, promulgando vários direitos aos cidadãos, como a isenção de impostos e a ampliação do comércio. Sendo assim, muitos habitantes da região optaram por morar em Laguardia, e a cidade conseguiu florescer obtendo um momento de apogeu.
A cidade tem atrativos curiosos, um deles é o carrilhão de Laguardia, que fica localizado na Plaza Mayor. É um símbolo identitário em que, em horários programados, figuras de dançarinos com roupas típicas surgem na frente do relógio a bailar.
Outra curiosidade é o interessante trabalho do escultor basco Koko Rico, “Homenaje a los Viajeros”. Situado na Plaza El Gaitero, a obra é composta por duas mesas de bronze e ferro, uma mostrando diferentes tipos de sapatos e outra, as malas e maletas dos viajantes.
A Igreja de Santa Maria de los Reyes encontra-se na Plaza El Gaitero, na parte norte da cidade. Sua curiosidade está ligada ao tempo de duração da obra, quase cinco séculos, pois a construção começou no século XII, mas a igreja só foi inaugurada no início do século XVI. Quem sabe a origem do ditado popular “parece até obra de igreja” não possa estar vinculada à igreja de Laguardia? Sem sombra de dúvida, essa sim foi uma longa obra de igreja, conforme o ditado bem conhecido, aos sete ventos.
O longo tempo da obra dessa igreja se explica por possuir elementos que ressaltam aos olhos de qualquer visitante, principalmente o pórtico policromado construído em pedra esculpida no séc. XIV tendo sido policromado no séc. XVII com pormenores que mostram a Virgem Maria, apóstolos e anjos mesclados com motivos florais, folhas de parreiras e cachos de uvas. O retábulo foi executado no séc. XVII com predomínio no estilo renascentista, mas com tendência para o barroco.
Elciego foi outra cidade da região de Rioja Alavesa que conheci por conta da planejada e aguardada visita à Bodega Valdelana. Os moradores de Elciego conseguiram, em 1583, junto ao rei de Espanha, a emancipação de Laguardia, passando então a se constituir em uma cidade livre. No século XIX ela se consolidou como a maior produtora de vinho da região de Rioja Alavesa.
“(…) Em 12 de novembro de 1583, o rei Felipe II concedeu a Elciego a Carta de Privilégio. Nela, separa-a da cidade de Laguardia e a constitui como uma “cidade em si”, dando-lhe jurisdição própria e todas as características e instrumentos da justiça: “pelourinho, forca, faca e estoques”. Durante o século XVIII, foram realizadas as principais obras da cidade: Plaza Mayor, Prefeitura, com brasão próprio, ermita da Virgen de la Plaza e etc. Com o desenvolvimento ligado às vinhas, muitas casas senhoriais são construídas. O século XIX representa uma consolidação econômica com uma visão do futuro. O município de Elciego é o maior produtor de vinho da região (…).” (trecho do site: https://es.wikipedia.org/wiki/Elciego).
A visitação na Bodega Valdelana foi bastante interessante, pois a guia explicou a história da vinícola e o processo de produção de vinho e ainda nos levou a conhecer o subsolo, local das adegas para o armazenamento das garrafas, onde ocorrem a decantação e a purificação dos vinhos. Tivemos a oportunidade de conhecer a propriedade agrícola e, ao final, o melhor: o momento de saborear e degustar os diferentes tipos de vinho da Bodega Valdelana. Gostei muito e comprei vinhos e azeite. Valeu muito!
É importante ressaltar que as características geográficas de Rioja Alavesa, e principalmente do município de Elciego, determinam a boa qualidade do vinho, como terrenos com altitudes que variam de 400 m a 1200 m, resultando, assim, em temperaturas baixas que ajudam as uvas a reter níveis moderados de ácido e obter boa cor. Além disso, o solo nas encostas e terraços onde as videiras são cultivadas é rico em argila calcária e calcário, dando ao vinho excelente aroma e leve frescor.
A Igreja de San Andrés Eliza de Elciego é algo que surpreende devido à sua localização na área mais elevada da cidade, colocando-a em destaque de vários pontos por onde se esteja. Sua imagem impressiona, principalmente por suas torres absolutamente irregulares, sendo que a da direita começa a diminuir no corpo dos sinos, a partir de uma varanda de balaústres, e o ponto mais alto tem a forma de uma pirâmide enfeitada com ornamentos salientes e pontiagudos e gárgulas simples. A da esquerda, mais simples, com um corpo de um único sino e na sua ponta final, apresenta ornamentos pontiagudos menos salientes. Pouca informação histórica obtive dessa igreja, apenas que foi inaugurada em 1554.
Foto do site: https://carrotsandtigers.com/2018/06/18/a-guide-to-visit-la-rioja-in-spain/.
O passeio pela região de Rioja Alavesa não poderia terminar sem que eu tivesse chegado o mais perto possível da Serra da Cantabria, para poder admirar sua morfologia exuberante, composta de diferentes morros pontiagudos com a rocha visível. Desde minha chegada à região, fiquei impressionado com a beleza dos montes de diferentes formas, então, antes de um entardecer, peguei uma estrada na direção norte, a partir da cidade de Kripan, local onde me hospedei, e fui até que pudesse me aproximar da Serra da Cantabria, que compartilho com fotos.
Cheguei realmente a extasiar-me e perder o fôlego num ponto da estrada denominado de “Puerto de la Aldea Viejo”. Muito interessante, já que estava no local onde era possível ultrapassar para o outro lado da Serra da Cantabria, numa altitude de 1004 m. Pode-se dizer que esse ponto é uma cumeeira da serra, ou um cume, mas não é o ponto mais alto, característica do Peñalta, que alcança mais de 1243 m de altitude.
Espero que tenha gostado do passeio pela região de Rioja Alavesa, pois com imenso prazer descrevi o que pude conhecer. Algo é importante ressaltar, o povo basco é muito amável e hospitaleiro, pois lembre-se que no início do post expliquei que estava na província de Álava, mas na comunidade autônoma do País Basco, na querida Espanha. Ficou com interesse de conhecer? Que tal?
Imagem de destaque retirada do site: https://www.polarsteps.com/wayneandrach/5645-spain-2015/40729-eltziego
Como sempre, maravilhosa viagem!!
Parabéns!!
Querida amiga Tânia, muito obrigado por suas palavras de incentivo.
Achei as fotos e o texto muito bons! Adorei!
Amiga Teca, adoro que você e outros seguidores gostem do blog, tenho feito tudo com muito carinho. Um abraço!!!!!
Apaixonada por cada detalhe.
Seu blog é inspirador, não vejo a hora de poder viajar novamente.
Parabéns!!!
Sensacional
Prima Isabel, que bom que você gosta do blog, fico muito feliz com a boa receptividade de muitos seguidores.