Um viajante com pouca quilometragem deve querer entender o motivo de uma viagem a um país desconhecido e com pouco apelo turístico. Eu mesmo me fiz essa pergunta antes de definir que conheceria a Geórgia. A ideia era uma visita conjunta à Armênia, entretanto fui orientado a somente viajar a esse país caso eu fosse fluente em inglês, o que não é o meu caso, ou se eu contratasse um pacote turístico, o que não se encaixa em minhas pretensões. Um dos motivos alegado foi que na Armênia ainda existe um pouco de vulnerabilidade para quem opta por viagens individuais. Entretanto, fiquei instigado em conhecer a Geórgia, pois um amigo, que é guia em Moscou, afirmou que é um país impactante, seguro para os turistas e com um povo muito hospitaleiro. Fui.

Vista aérea de Tbilisi.

Chegar a Tbilisi, a capital da Geórgia, é sempre uma grande aventura, e não foi diferente para mim. Tudo começa com a escassez de voos saindo da Europa Ocidental, já que a grande maioria chega a Tbilisi tendo origem na Europa Oriental ou na Rússia. Eu havia reservado uma passagem da empresa Georgian Airways, direto de Amsterdam, mas a empresa cancelou e fui transferido para a Air France, com escala em Paris. Foi um dia viajando, pois saí de Bremen, na Alemanha, num voo às 6h da manhã para Amsterdam, de onde começava o voo da Air France para Tbilisi, com escala em Paris. Um pouco nervoso, cheguei às 21h em Tbilisi, sem falar nada em inglês e muito menos georgiano, e precisava comprar um chip, pegar o carro alugado, me instalar no hotel e jantar. Tudo foi feito, mas de forma um pouco apreensiva. Nas ruas escuras perto do hotel, arranhei o carro, o que me fez pagar 100 euros ao entregá-lo. Mas esse foi o único problema que tive na Geórgia.

A Geórgia é um país ao sul da Rússia e banhado pelo Mar Negro.

A hospitalidade dos georgianos foi algo que me impactou muito, veja-os num ponto de ônibus em Tbilisi, a capital do país.

Em outro post sobre Tbilisi (https://novosterritorios.com/tbilisi-lugar-das-aguas-quentes/) já comentei sobre minha receptividade no hotel que me instalei, e descrevi o que comecei a conhecer dessa cidade muito diferente de outras da Europa. Neste post vou apresentar outros pontos de Tbilisi, como, por exemplo, o cartão postal da cidade, o forte Narikala. Para se alcançar a fortaleza, a melhor maneira é através de um teleférico que inicia o percurso na praça do Rike Park. Durante a subida já se tem a linda visão panorâmica do Rike Park, do rio Kura, da ponte da Paz e de muito mais. Muito interessante nesse passeio foi constatar a diversidade dos povos que visitam Tbilisi, dividi a subida ao forte com judeus ortodoxos, árabes, chineses, mongóis, hindus, uzbeques e outros que talvez não tenha podido definir. Isso é incrível!

O forte Narikala com a luz do dia, e em destaque a igreja ortodoxa de São Nicolau mais à esquerda.
O forte Narikala iluminado, com destaque para a igreja ortodoxa de São Nicolau.

Para que se tenha uma ideia geral de Tbilisi, localizando o forte Narikala, o Rike Park e outros pontos, acho importante que entrem e viajem no mapa abaixo. Caso não tenham familiaridade com o Google Maps, eu indico utilizar o Street View. Uma das características mais interessantes dessa ferramenta é que o boneco navegador, que se encontra na margem inferior direita, nos leva a caminhar por todas as vias e pontos importantes da cidade. Mas, para isso, você precisa ampliar o mapa de Tbilisi, clicando, na janela à esquerda, em “visualizar mapa ampliado”. Viajem!

Mapa de Tbilisi, capital da Geórgia.

O forte Narikala fica no alto de uma colina, e ao chegar fui visitar inicialmente a igreja ortodoxa de São Nicolau, na região fortificada. A vista é algo deslumbrante. O forte é uma cidadela amuralhada de origem persa e realmente possui uma vista incrível da cidade, onde, com certeza, você sente toda a sua beleza. Fiquei encantado! Tbilisi é um sonho. É uma cidade para desfrutar com tranquilidade.

Os muros do forte Narikala e a igreja ortodoxa de São Nicolau, reformada em1996.

Foto do site: https://www.viator.com/en-AU/Tbilisi-attractions/Narikala-Fortress/d22516-a21386

A história do forte Narikala está relacionada aos diferentes momentos de ocupação do território da atual Geórgia. O início do estabelecimento do forte foi no século IV como uma cidadela de origem sassânida, povo que deu origem aos persas. A maioria dos muros foi construída no século VIII, pelos árabes, cujo palácio ficava dentro da fortaleza. Posteriormente foi sendo expandido ou reconstruído pelos georgianos, turcos, persas e pelos mongóis, que a renomearam como “Narin Qala”, ou seja, “Pequena Fortaleza”. Em 1827, partes da fortaleza foram danificadas por um terremoto e posteriormente demolidas. Hoje é um lugar bastante popular na capital georgiana, especialmente por causa das vistas magníficas de Tbilisi que se oferecem a partir do topo da fortaleza.

Os muros do forte de Narikala são espessos e grande parte continua de pé mesmo depois de um terremoto.
A cachoeira Leghvtakhevi.

Após a visita da região do forte Narikala, iniciei uma leve caminhada de descida para chegar à Cidade Velha de Tbilisi, pegando então a Botanikuri Street. Antes de chegar ao destino, entrei por uma rua à direita que me levou até a cachoeira Leghvtakhevi. As águas caem de um ponto bem alto e você fica cercado por um íngreme desfiladeiro. Na parte mais alta, olhando para cima, vê-se prédios antigos e suas lindas varandas de madeira talhada, como se fossem arranha-céus. É algo bem agradável de se ver, o lugar é muito bonito e todos ficam surpresos ao vislumbrar uma cachoeira rodeada por bela arquitetura georgiana.  

Varandas de madeira talhada que embelezam o alto do desfiladeiro na região da cachoeira Leghvtakhevi.
O caminho, o desfiladeiro e os belos edifícios de arquitetura georgiana, próximos à cachoeira Leghvtakhevi.
Belos e coloridos prédios de Tbilisi, próximos da Botanikuri Street, na região da Cidade Velha.

Após retornar ao Rike Park (sobre essa espaço público de Tbilisi há mais informes no post: https://novosterritorios.com/tbilisi-lugar-das-aguas-quentes/), dirigi-me à igreja ortodoxa georgiana de Metekhi, localizada na margem esquerda do rio Kura, no bairro de Avlabari, num penhasco em frente à Cidade Velha de Tbilisi. Grande parte da estrutura existente remonta à Idade Média e foi construída entre 1278 e 1289 sob o reinado do rei Demétrio II da Geórgia, embora a tradição oral tenda afirmar que as origens de Metekhi remonte ao séc. V. Conforme a tradição da arquitetura georgiana, os templos religiosos foram sendo construídos em harmonia com a paisagem natural circundante, assim sendo, a igreja de Metekhi foi erguida para parecer uma continuação do penhasco, visível de muitos pontos da cidade, ficando linda à noite com a iluminação delicada da cidade de Tbilisi. Ao lado da igreja encontra-se uma bela estátua do rei Vakhtang I, rei da Ibéria, monarca que fundou a cidade de Tbilisi no século V d.C.

A igreja de Metekhi e a estátua do rei Vakhtang I, rei da Ibéria, num penhasco à beira do rio Kura.
A igreja ortodoxa georgiana de Metekhi em reforma no ano de 2019.
O lindo altar da igreja ortodoxa georgiana de Metekhi.
A fachada com três absides convexas da igreja ortodoxa georgiana de Metekhi.
Na base do penhasco de Metekhi encontra-se a singela igreja de Santo Abo de Tbilisi, padroeiro da cidade.

Foto do site: https://en.wikipedia.org/wiki/Abo_of_Tiflis.

Estátua do rei Vakhtang I, monarca que fundou a cidade de Tbilisi.

Foto do site: https://www.flickr.com/photos/alexxx-malev/

Mais tarde fui caminhando em direção ao teatro de marionetes Rezo Gabriadze, para vê-lo com o seu belo relógio dourado. Esse teatro é um ponto turístico na cidade de Tbilisi, já que da torre do relógio sai, a cada hora, um boneco do seu topo. Isso faz com que vários turistas e mesmo moradores da cidade fiquem ansiosos, à frente da torre, à espera do momento. É interessante e vale a visita.

Teatro de marionetes Rezo Gabriadze e sua torre do relógio.

Próximo ao teatro, encontrei uma linda e antiga fonte de água, com a cuba da pia lindamente decorada. Eu a achei bela e bem diferente. Ao caminhar por essa região da cidade, percebe-se claramente a força da religião ortodoxa na Geórgia, com a presença de várias igrejas, algumas bem antigas, outras pequenas e mesmo a sede do patriarcado da igreja ortodoxa do país – http://patriarchate.ge/geo/. O georgiano é muito religioso, além de ser bem hospitaleiro.

Bela e antiga fonte de água, com a cuba da pia lindamente decorada.
A igreja ortodoxa da Geórgia Jvaris Mama é a da esquerda, a outra é a igreja armênia ortodoxa de Norashen, fechada desde 1930 pelos soviéticos.

Dentre as igrejas nesse bairro de Tbilisi, destacam-se a catedral de Sioni, construída entre os sécs. VI e VII; a basílica de Anchiskhati; e a Jvaris Mama Church. Esta última me deixou bastante impressionado, pois se encontra no local onde outra, bem mais antiga, havia sido construída no séc. V, sendo que a atual data do séc. XVI e está em franco processo de deterioração e desgaste de quase toda a sua estrutura externa. Não consegui saber ou entender os motivos desse processo, mas mesmo assim vale uma entrada para apreciar o seu interior coberto de impressionantes afrescos vermelhos, dourados e azuis. Veja a interessante galeria de fotos do interior da igreja ortodoxa Jvaris Mama: https://www.tripadvisor.de/Attraction_Review-g294195-d12097344-Reviews-Jvaris_Mama-Tbilisi.html.

A basílica de Anchiskhati, em estilo românico, é a igreja sobrevivente mais antiga de Tbilisi.

Sobre a basílica de Anchiskhati vou destacar uma descrição muito interessante de um cidadão americano que vive na Geórgia e faz parte do coro de canto da igreja ortodoxa. Logo após tem um vídeo com o canto ortodoxo georgiano denominado “Você é a Vinha”.

“Como é cantar na Igreja Anchiskhati? Bem, a acústica não é das melhores do país, mas também não é ruim (…). Os blocos de arenitos nas fundações datam do século VI, embora os atuais pilares de tijolo e telhado tenham sido reconstruídos no século XVII. O que é incrível em cantar na Igreja Anchiskhati é porque com esse coro, com essas pessoas, essa tradição começou em 1990. Para a minha geração de cantores, estes são os salões sagrados onde o coro de canto mais famoso se apresenta. E aqui estava eu, cantando com eles”. (trecho retirado do site: http://www.johngrahamtours.com/chant-in-anchiskhati-basilica-tbilisi/).

O canto ortodoxo georgiano “Você é a Vinha”, na basílica de Anchiskhati.

Catedral de Sioni.

Para concluir, vou relatar um momento de grande emoção e felicidade que me ocorreu em Tbilisi, assim como em outras partes da Geórgia. Já era a terceira noite na capital e eu já havia visto como a cidade se põe linda toda iluminada. Então, em torno das 21h, voltei ao restaurante Dr. Benjamen, na Metekhi Rise, 11, por ele ter uma linda sacada e uma vista maravilhosa para o rio Kura e o forte Narikala. Ao casal, que já me conhecia, informei que retornei para tirar fotos do forte iluminado (foto do início). Sentei-me e comecei a chorar copiosamente, num êxtase de alegria, emoção e sentimento de felicidade por estar na Geórgia.

Da varanda do restaurante Dr. Benjamen, em Tbilisi, vê-se o forte Narikala com todo o seu esplendor, e assim me emocionei por estar na Geórgia.

O momento, para mim, foi indescritível, e o melhor foi a solicitude do casal, que, logo, preocupado com minha emoção, trouxe um lenço e água. Fiquei mais emocionado!!! Assim são os georgianos! E ainda tem o melhor: é um destino bem barato. Estou certo de que retornarei, pois vejo que ainda existe muito o que viver e desfrutar em Tbilisi e na Geórgia. Vamos?

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24 thoughts on “Tbilisi – o fascínio da cidade e o forte Narikala.”

    1. Isis, amiga. Demorei a responder porque o seu comentário foi colocado abaixo de um outro comentário e somente hoje o Leonardo, que trabalha com o blog, acertou a posição. Mas indo ao seu desejo de conhecer Tbilisi eu digo que vale muito e espero que você um dia conheça a Geórgia. Um Abraço!!!!!

  1. Que texto primoroso! Saber de locais que não são muito visitados, mas são lindos torna seu trabalho ainda mais especial. Obrigada ♥️

  2. Que legal 👍🏽 excelentes abordagens e locais lindos e de muitas culturas diversas.. Parabéns pela postagem, são lugares inesquecíveis 🎻🎻🙌🏻🙌🏻👏👏👏👏👏👏

  3. Ronaldo, Tbilisi é uma cidade maravilhosa e, além disso, tem um povo hospitaleiro e acolhedor. Muita vontade de ir lá para ver isso de perto. Parabéns!!

  4. Cenários maravilhosos!!!
    Pesquisa feita com muita sensilidade por pessoas que realmente conhecem o lugar.
    Dá vontade de ir pra lá agora.

  5. Realmente dá vontade de visitar esse país pouco divulgado no meio turístico. As fotos nos instigam a conhecer a Geórgia. Colocarei na minha lista.

  6. Adorei todas as informações, viajar é adquirir conhecimento. Parabéns pelo blog. Viajar é preciso.

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